Os corpos e o mar
Quando Baudelaire falou das riquezas íntimas do mar
esqueceu-se de falar que em suas águas também se escondem
corpos negros
que não chegaram a atravessar o oceano
corpos negros
arrastados
roubados
forçados
agrilhoados
corpos negros
lançados
descartados
atirados
às profundezas do Atlântico
sem cântico
insepultos
sem rito
velados
esqueceu-se de falar que em suas águas também se escondem
corpos negros
que não chegaram a atravessar o oceano
corpos negros
arrastados
roubados
forçados
agrilhoados
corpos negros
lançados
descartados
atirados
às profundezas do Atlântico
sem cântico
insepultos
sem rito
velados
e no entanto
voilà
séculos
numeráveis
inomináveis
em que o mar os abraçou sem piedade nem remorso
tanto amamos a carnificina
e a morte
tanto odiamos a diferença
e o outro
negros
corpos
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