quinta-feira, 3 de abril de 2025

Revisitando

Os corpos e o mar

Quando Baudelaire falou das riquezas íntimas do mar
esqueceu-se de falar que em suas águas também se escondem
corpos negros
    que não chegaram a atravessar o oceano
corpos negros
    arrastados
    roubados
    forçados
    agrilhoados
corpos negros
    lançados
    descartados
    atirados
    às profundezas do Atlântico
        sem cântico
        insepultos
        sem rito
        velados
e no entanto
    voilà
séculos
    numeráveis
    inomináveis
em que o mar os abraçou sem piedade nem remorso
    tanto amamos a carnificina
    e a morte
    tanto odiamos a diferença
    e o outro
negros
corpos

Nenhum comentário: