O Ballet da Aranha ao som dos uivos de Zéfiro
Como que voando magicamente a aranha realiza seu ballet
Flutuando ao balanço da brisa, oscilando em sua dança
Sobe, gira e desce movimentando-se graciosamente
Ela sai da vista do observador como se encenasse,
para este, um papel de musa
Zéfiro maneja suas forças como um maestro, comanda a orquestra
e o aracnídeo firme na ponta da linha
quase que imaginária
Como um trapezista, suspensa por um cabo de aço cor-de-nada
Faz piruetas e reboliços em busca de um ponto firme
E quem não o faz?
Quem nessa vida não se arrisca em busca do outro lado?
Quem não se deixa levar pelos ventos da tragédia?
– Soprai Dionísio, soprai! –
Tu não o fazes?
Por que vives então?
Preferes ser a formiga, servil, honrada, no frenesi do trabalho maçante e perene?
Por que tu o fazes?
Em troca de prazeres de mercadejo?
Em troca de sempre estar na platéia?
Prefiro eu morrer já, a isto!
Prefiro, eu, uma curta vida intensa como chama
que me faz sentir vivo a cada instante
–
Überzeit – vivendo além da moral
sendo vivido até o instante mais banal
do que esta “vida” estéril e de calceta
Prefiro a emoção colossal do ballet da aranha
em suas acrobacias pelos próprios desejos
Jamais – em sã consciência – carregarei a folha
que alimente o fungo que me consumirá pouco a pouco
Enquanto a mente divaga, a página se acaba
A dança chega ao fim... Mas não, isso não é o fim!
É o começo de um novo espetáculo
que se faz em cada traço!
Que se faz em cada novo bailar
Parece tecer o seu futuro – Se é que se tem um!
E a tecelã não descansa até que sua obra chegue ao fim
– Eu não descanso!
Ah, que bela obra! Ah, que bela dança!
Levanta-te e aplaude-a de pé! Palmas, palmas!
À minúscula beleza na imensidão do vazio interior
e a dançarina continua seu viver sem se importar com a platéia,
Sem ligar paras vaias e aplausos, para os clamores e desafetos.
Ela simplesmente o faz!