segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

bloco de nota

nota em bloco

e me doíam as juntas e me angustiava por trás dos olhos minha miséria e me enchia até o fundo da cabeça a ansiedade e me recobria uma tristeza a vagar sobre a pele e me ardiam os ossos e crepitavam os ouvidos cegos a língua mouca o nariz que já não podia mais deleitar-se com pessoa. e nada era extasia gozo jubilo queda e redenção morte e ressurreição salto em queda livre e mergulho num mar de regozijo cinza até qu’eu pusesse tocar um velho vinil de sérgio sampaio. ah sérigio. sacaste-me tu com teus nobres versos deste abismo de não poder amar minha dor minha miséria meu vazio meu fado de hoje. ah sérgio. devolveste-me o riso que aprendi a construir e o risco que aprendi a correr e o rico olhar para vida. ah sampaio. devolveste-me o ânimo para dançar meu fado favorito. sim sérgio. foi ela. pela janela. foi ela e ela não é pessoa. ela não é que tua música. foi ela que me invadiu o corpo. foi ela quem jogou meus versos de estimação pela janela. foi ela. foi ela. ela é a fera. ela é a bela. melancolia? palavras dizem nada. foi ela. foi ela quem me jogou pela janela. fora. fora. dei. dei o fora. o fora pela janela. 


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