Meu clown é a poesia:
Pão meu de cada dia
Que não me esvazia
O peito da melancolia,
Mas a torna garbosa alegria
Que da palavra que enfastia
Faz o que de belo havia
Verter com farta euforia,
Desviando a nodosa romaria
Em que viver quedaria
Pela densa crença pia
Não fosse aquele que cria...
Devore-me e
Eu lhe decifro
Regurgito
E sinto você
Sair feito aborto
Que, meio torto,
Há de voltar e voltar
E voltar
Até eu lhe beijar
A face e dizer:
Eu sou, também, você
Oh, monstro em mim
Por que nesta álgida madrugada
Dos ânimos cálidos, por fim
Surgisse-me do nada
Como quem tudo quer refregar
Sem muito se importar?
Irrompesse-me a derme
Como quem a muito dorme
Esperando pelo momento
De transbordar sentimento,
Tornando-me o lixo
Que sempre temi me tornar
Fazendo-me um bicho
Que em violência devorará
O que de mais belo há,
E tanto desejo amar.