No banco
Dia agradável. O sol ilumina o céu, de forma esparsa pode-se vê-lo por entre as nuvens. Isso dá ao dia um clima ameno. Uma brisa fresca completa o cenário tão convidativo a se aproveitá-lo ao ar livre.
Sento-me num banco num caminho ladeado de pinheiros mais ou menos regularmente espaçados. Os transeuntes dão um charme à paisagem. Alguns tão prosaicos, outros mais exóticos; são um verdadeiro hall de tipos. Passa uma moça de dreads loiros em uma bike; depois colegas discutindo de modo veemente as questões da prova; um jovem solitário de cabelos cacheados compenetrado em seu celular move-se rapidamente. Vários rostos, cores e caminhas vem e vão.
Começo a reparar no modo como caminham, a passada, a inclinação da perna e velocidade dos movimentos. Uma amiga uma vez me disse que nos apaixonamos pelo andar doas pessoas. Será? Quando ouvi isto aquela vez dei de ombros. Mas hoje, olhando tais pessoas aqui nesta alameda, pensei: será?
Reparo em dois jovens, um rapaz e uma moça. Parecem ser amigos, há a afeto em seu olhar. Penso: será? Será mesmo? Meu cérebro que adora dar piruetas gira, gira e gira seus pensamentos, meus pensamentos e para... Em ti. Será?
De repente, ele substituo a moça por ti. Imagino-te caminhando, indo, afastando-te donde onde eu observo. Mais uma pirueta e já não estamos mais entre às árvores, estamos cerrados em um aeroporto. Meu coração se agira e isso me surpreende.
Outra pirueta cerebral e já não te observo ir, mas vir. Agora sei, estou a te ver chegar. Estava a esperar teu voo chegar. Neste momento vens em minha direção. Meu coração buliçoso bombeia euforia pelas veias. A imagem causa efeitos que me deixam atônito, alegre e ansioso. Queria que aquilo se realizasse, transbordasse aquele devaneio. E o que mais me surpreende, não imaginei mais que teu caminhar. Não desenhei teu rosto, apesar de saber que sorrias. Talvez minha amiga estivesse correta – ao menos em partes. Teu caminhar é o suficiente para que eu perceba minha paixão, quase pueril, para que eu perceba o quanto te quero.
Sem me ver caminhas em minha direção saindo da área de desembarque. Teus passos se detêm por segundos, posso ouvir teu riso. Corres e atiras-te em um abraço apertado. Um beijo e volto ao banco. Meu coração palpita. Um raio de sol atingia meu rosto, despertando-me. Deleito-me enquanto meu coração desacelera e distraio-me a observar um sabiá manco que saltita sem receios por entre aqueles pedestres. Será?