A esse amigo
Queria escrever a um amigo.
Um amigo com cujo encontro,
Como já disse uma vez,
Fez-me devir quem sou.
Um amigo com quem aprendi sobre os astros,
Sobre os outros,
Sobre os átrios,
Sobre os loucos poetas e poetizas mais solenes e insolentes.
Amigo com quem aprendi a recitar poemas baudelairianos de
cor e,
Também,
A exercitar a empatia de coração.
Um amigo mais que amigo,
Dum amor mais que amor.
Amizade de órbita elíptica –
Ora mais próximos,
Ora mais distais,
Sempre a movermos os mares e marés um do outro.
Queria escrever a esse amigo para dizer-lhe que,
Se às vezes pareço distante,
Alheio,
Ou indiferente,
De fato,
O que se passa é uma recalibragem de meus próprios limites,
Contornos e costuras para perceber em mim a força para andar
com os próprios pés,
O tato para sentir em mim o calor duma chama capaz de acender-me
feito fogo de artifício e ascender-me um ponto em qu’eu possa brilhar como esta
amigo um dia profetizou,
Ou melhor,
Como este amigo um dia,
Sagazmente,
Revelou-me o que via em mim,
Que eu mesmo não podia ver e agora procuro.
A esse amigo,
Sob o pretexto de uma data comemorativa,
Queria escrever um poema de amor,
De amizade,
De gratidão e de algo muito além disto tudo.
A esse amigo,
Desejo saúde e sorte –
Sorte que nos permitirá cruzar as rotas e os braços em
abraços ainda uma vez mais.
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