domingo, 2 de agosto de 2020

Ridiculamente digo:

Gente que ama de verdade não escreve poemas de amor


Gente que ama de verdade
Não escreve poemas de amor.
Quem ama de verdade
Senta sobre o amor
Como fosse um trono de pedra
Ou senta sobre as próprias pernas.
Assim é a gente direita, direta e certa.

Gente desviada, desvairada e tola
Ama um amor mentiroso -
Amor inventado
Com cheiro de carne e osso -;
Ama um amor mentiroso -
Amor inventado
Com textura de sangue, vinho e gozo.

Nem etéreo nem eterno,
Um amor sério e gozado;
Nem líquido nem liquidado,
Um amor...
Nem ovo nem inovado
Um amor que repete e repete e repete e repete e repete e repete...
E pede de novo por uma artesania
Que não é nem do mais eficiente
Nem do mais complacente
Nem do mais potente
Nem do mais ideal
Nem do mais carente
Nem do mais caro
Nem do mais amor.
Artesania dum amor que não é amor,
Mas um gesto de amar,
Sempre a lembra e a esquecer,
A apagar e a reescrever o que é,
Feito perpétuo cuidado de forjar,
O amor mais bonito que há.

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