quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Jubiloso

Soneto à partida

Escrevo estes versos a fim de que, se meu nome vier a se apagar de tua lembrança,
Saibas que ali, vendo a lua cruzar o céu, senti em mim uma lacuna se sobressair;
Senti que mais um passo poderia ser dado para admirar o abismo antes de nele cair;
Senti que em meu olhar alguma coisa, que batia e ardia contida em sua pujança,

Desejava fazer os corpos transbordarem uma vez mais antes de tudo se esvair
No ar feito o rastro entre as nuvens, ainda que eu soubesse que a temperança
Não fora a maior das virtudes – ou o maior do vícios – deste doce sorriso de criança
Que nos assaltava o rosto sem o menor pudor, a nos embriagar e a nos distrair.

Ser jubiloso que, do abismo de mais intenso azeviche ao céu da mais bela nuança
De cores, em um átimo fez verter em mim copiosa e dionisíaca bem-aventurança,
Agora que partiste em tuas andanças, sinto que algo pode ou poderia ser mais;

Porém em meu peito não jaz a dor da esperança de um futuro escasso de mim,
Não jaz o espírito da esposa que, aguardando o retorno do marujo, queda no cais;
Antes, está a viva satisfação do encontro dos que fazem da vida um inefável festim!



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