Déjà Lu
Escrevo.
Não escrevo como quem revela.
Nada de escrita profética.
Não professo.
Não sou professor.
Não desvelo.
Não revelo.
Não iludo.
Não esclareço.
Não prometo o progresso.
Não prometo ser fiel
[nem a mim mesmo].
Não salvo.
Não batizo.
Não liberto.
Não conscientizo.
Não minto.
Não falo verdades.
Escrevo.
Escreve-se.
Escrevo para quem?
Escrevo para nada.
Escrevo por disfunção
[psicossocial].
Escrevo para avariar.
Escrevo para desabilitar.
Escrevo para desabitar.
Escrevo para descoisar.
Escrevo para fazer des-ser.
Escrevo para fazer descer ao limbo do Terceiro Excluído.
Escrevo para lançar ao mar que separa os continentes do Ser e do Não-ser.
Escrevo para navegá-lo com palavras a arar suas vagas negras.
Escrevo para atracar em uma ilha deserta.
Escrevo para povoá-la ou saqueá-la e zarpar de volta ao mar do Esquecimento.
Escrevo para esquecer.
Escrevo para tornar esquisito.
Escrevo para tornar inútil.
Escrevo esquizo.
Escrevo para não prestar.
Escrevo para sobejar.
Escrevo para esvaziar.
Escrevo para desviar da escrita que explica.
Escrevo para desencaminhar da escrita que controla e comanda.
Escrevo para fugir da escrita que dita a verdade.
Escrevo e escrevo e repito até cansar.
Escrevo para escapar do efeito déjà lu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário