terça-feira, 17 de maio de 2016

prover por-vir

medomotor


Desgraçada,
Fui perdendo a graça;
Meu corpo foi se fechando;
Fui perdendo a capacidade
De afetar e de ser afetada;
Fui dobrando-me sobre mim mesma;
Interiorizando-me;  
Fechando-me;
Fui gerando um bolsão de ar,
De dor,        
De nada,
De medo!
Gestei uma ratazana na barriga.
Ela foi ganhando corpo
E em alguns meses
Tinha de escolher: ela ou eu.
Escolhi - e aquela mulher morreu...
               e eu devim roedora,
               não me tornei nem me torno nada,
               mas deslizo sem nunca parar numa forma;
               movida por essa força-rata
               de nova em nova,
               de outra em outra,
               sem nunca ser nada...




Um comentário:

B. de Belmonte disse...

adorei o devir-ratazana!