A boca tinha um cacoete: os lábios, fechados, moviam-se para frente e pera trás. Lembravam o movimento da boca de um peixe dourado, porém possuía a velocidade frenética da agulha em uma máquina de costura regida por uma costureira que não ganha mais do que alguns centavos por peça cosida.
Assim, para frente e para trás, aqueles lábios se agitavam numa velocidade inversamente proporcional à lentidão do restante daquele corpo vetusto que tentava caminhar, lentidão que o fazia (aquele corpo) praticamente inexistente, lentidão que fazia o par de lábios desgarrar-se, fazia a boca existir por conta própria, em seu vai e vem irrequieto e um tanto quanto automático. Vai e vem do qual não podia, ainda que de soslaio, desviar meu olhar atento.
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