sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Fluxo:

Fuga(z)

Aqui, neste mundo onde se, ainda hoje, pode pisar, onde ainda há ar para se respirar, onde ainda há o que comer & o que beber.

Aqui, neste mundo imundo humanamente desumano, onde ainda se pode poder, onde se podem ver frestas, onde ainda pode se fazer festa, onda ainda se permite tentar, onde, raramente & a muito custo, ainda se pode – amar

Neste mundo, real, ele existiu – o mito.

O mito que se voltou a si, beijando o infinito, cuspindo em si, em sol & lá.

& enquanto todos fechavam os olhos ele abriu, abriu para seu último suspiro

Um suspiro vigoroso, forte, intenso, vivaz & pulsante.

Suspiro que, em sua ânsia de ser livre, esvaziou aquele peito aberto, marcado por chagas.

Chagas vivas & vermelhas, chagas de quem abre o peito ao mundo & escarra palavras em parrésia à amnésia cultural.

Suspiro que esvaziou o peito, carregando consigo a alma – a vida.

Uma vida intensa & sem medidas.

Em sua realidade descabida um ponto qualquer no que quer que seja o tempo. Mas, junto, deixou uma gigante cratera no coração da humanidade.

Humanidade?!

Bem, nos humanos demasiado humanos, nos humanos deificados por si mesmos &, assim como os outros deuses, por eles também assassinados.

& bem nestes humanos, é que a mácula de imperfeição, o tiro final & fatal abriu um rombo em sua etérea-natureza.

Assim, morreu um indomável, inamável, insaciável ente – doente social.

Um anárquico pulsar histórico em rota de colisão consigo, em linha de fuga – em fuga de sua identidade, em busca de outro – outro eu.

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