Sobre a bolha de sabão que se é
ou
A insustentável leveza do ser
ou
Sobre a fragilidade do ser
Uma vez um amigo me disse que o viver é igual uma bolha de sabão. Uma bolhinha que se move anarquicamente com o vento, assim como o pulsão da vida nos move para lá e para cá, e não nos permite parar, assim como as forças que nos torcem e retorcem sem que possamos saber quem estas são. Bolha reluzindo à luz do sol, belamente, como se brilha à luz do viver, à luz das sensações. Mas sempre uma bolha – frágil.
Aquilo por ora me bastou, não houve profunda reflexão ou introspecção.
Todavia, hoje, numa bela tarde de domingo, sentindo o vento autunal, fresco, refestelando-se na minha face, apercebi-me meditabundo.
Próximo a mim uma criança alegremente corria de um lado a outro, fazendo bolhas e sorrindo, sorrindo e fazendo bolhas. Mas minha atenção não era para a criança, não mais, mesmo que suas gargalhadas cheias de infância vez ou outra cortassem meu pensamento, atraíssem-no para seu regozijo na simplicidade do ato.
Fora estes lapsos, o foco eram as bolhas. Mais especificamente duas. Em momentos distintos. Uma por vez analisada, refletida, drenada em sua pureza.
A primeira, num longo sopro, dançou para fora do anel. Fixei, então, meus olhos em seu balanço, ela subiu, girou e então, veio-me à mente ser a bolha.
Ser aquela bolhinha de sabão que parecia tão cheia de ventura, tão alegre de si.
Lá – sendo-a – pensei-me divagando, e no tempo das bolhas, descobri que, antes de estourar, deveria conhecer a verdade sobre mim mesma e o mundo ao meu redor. Cheio de orgulho por tal descoberta, eu, bolhinha, aos poucos me senti inflar, inflando, enchendo meu interior, aumentando a tensão na minha tênue superfície, fiz um ridículo “PLIM”!
Junto ao “PLIM” um acordar ante o nada, o vazio, a finitude, a esterilidade, a vanidade do existir. Um pavor, uma paura abateu-se sobre mim, levando a alegria mágica do momento de introspecção, da transmutação do ser. O cenário transformou-se em uma pintura cubista de tonalidades frias e linhas agudas, uma nadificação do ser ocorreu no meu peito, até meu coração percebeu-se tolo em ainda bater.
Em desolação meus olhos voltaram-se ao local onde a bolha tivera seu último suspiro de ser procurando algum alento. Ao mirar o local, outra bolha cruzou meu campo de visão. Uma bolha completamente nova, similar em estrutura, mas diferente em potência. Lancei-me para dentro dela, ou melhor, lancei minha mente outra vez num pôr-se-como bolhinha de sabão.
Lá, por motivos que não me são ignotos, pensei-me diferente da outra bolha.
Ali, bolinha, então, pairando ao lado da bolha que havia acabado de estourar, ouvindo o “PLIM”, não vi sentido algum em retardá-lo – o meu próprio fim. Renunciei-me a ser e auto-acionei-me, então o estouro, fazendo um segundo “PLIM”, percebi que este fora ainda mais – ridículo.
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