(ou Canção de Conservação e Conservatório)
(i)
Ainda vivem nossos pais como viviam?
Ainda sabemos nós o que é ser o mesmo
por mais tempo que o oco entre um clique e outro?
Quem ainda vive nesse presente diminuto,
entre o futuro planejado e excesso de porvir?
Ainda se pode cantar um canção como se deve,
compor um período longo, lento,
com mais de uma oração,
que não seja um pura mercadagem
— correta, branca, suave,
muito limpa, muito leve —
voando ou se desmanchando no ar
com o nécio sopro de opinião?
(ii)
Amar e conservar as coisas...
amar e conservar as coisas me interessa mais...
me interessa mais
o delírio de experiências
com coisas mortais
— que envelhecem, apodrecem, morrem,
que não se reciclam,
não se atualizam,
nem sem obsolescem —
cumprindo o duro dever
de defender amor
pelo mundo
e vida dos que virão...
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