quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Nem tu, nem eu

                                                        José Selgas
 
O mundo é um abismo
que se abre entre os dois;
salvá-lo é impossível, não podemos
        nem tu, nem eu.

Meu coração… lembras-te?
se uniu a teu coração
e romper este laço no conseguimos
        nem tu, nem eu.

Distância nos separa
que é cada vez maior,
e esquecer… não podemos…, impossível,
        nem tu, nem eu.

Em rápida corrida
passa o tempo veloz,
e de que importa, se aqui nada esperamos
        nem tu, nem eu?

Esplêndido é o céu,
magnífico é o sol;
porém já encontrar não podemos alegria
        nem tu, nem eu.

O salgueiro foi testemunha
daquele eterno adeus;
jamais sob sua sombra voltaremos
        nem tu, nem eu.

Ah! Nossas almas una
em suas tristezas são:
nem tu nem eu podemos separá-las;
        nem tu, nem eu.

O mundo é um abismo
aberto entre os dois;
não podemos salvá-lo, não podemos
        nem tu, nem eu.
 

«Ni tu, ni yo». In: SELGAS, José. Poesías. 2 v. Madrid: A. Pérez Alarcón, 1882-1883. Traduzido do castelhano ao português por J. M. Machado.


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