Antonio Machado
VIII
Em perguntar o que sabes
o tempo não hás de perder...
E a perguntas sem resposta
quem te poderá responder?
[...]
XII
Olhos que à luz se abriram
um dia para, depois,
cegos tornar à terra,
fartos de olhar sem ver!
[...]
XVI
O homem é por natura a besta paradoxal,
um animal absurdo que necessita de lógica.
Criou de nada um mundo y, sua obra terminada,
“Já estou no segredo – se disse –, tudo é nada”.
XXIII
Não estranheis, doces amigos,
que esteja minha frente enrugada;
eu vivo em paz com os homens
e em guerra com minhas entranhas.
[...]
XXV
As abelhas das flores
tiram mel, e melodia
do amor, os rouxinóis;
Dante e eu – perdão, senhores –,
trocamos – perdão, Luzia –,
o amor em Teologia.
[...]
XXVIII
Todo homem tem duas
batalhas que travar:
em sonhos luta com Deus;
e desperto, com o mar.
XXIX
Caminhante, são tuas pegadas
o caminho, e nada mais;
caminhante, não há caminho,
se faz o caminho ao andar.
Ao andar se faz caminho,
e, ao voltar o olhar atrás,
vê-se a senda que nunca
se há de voltar a pisar.
Caminhante, não há caminho,
senão esteira no mar.
[...]
XXXI
Coração, ontem sonoro,
já não soa
tua moedinha de ouro?
Teu cofre,
antes que o tempo o quebre,
ir-se-á ficando vazio?
Confiemos
que não será verdade
nada do que sabemos.
XXXII
Oh fé de meditabundo!
Oh fé depois de pensar!
Somente se vem um coração ao mundo
transborda o copo humano e se incha o mar.
[...]
XXXV
Há dois modos de consciência:
uma é luz e outra, paciência.
Uma consiste em iluminar
um pouquinho o profundo mar;
outra, em fazer penitência
com vara e rede, e esperar
o peixe, como pescador.
Diz-me, tu: Qual é melhor?
Consciência de visionário
que olha no profundo aquário
peixes vivos,
fugitivos,
que não se pode pescar,
ou essa maldita faina
de ir arrastando à areia,
mortos, os peixes do mar?
XXXVI
Fé empirista. Nem somos nem seremos.
Todo nosso viver é emprestado.
Nada trazemos, nada levamos.
[...]
XLI
Bom é saber que os copos
servem-nos para beber;
o mal é que não sabemos
para que serve a sede.
[...]
XLV
Morrer... Cair como goto
de mar no mar imenso?
Ou ser o que nunca fui:
uno, sem sombra e sem sonho,
um solitário que avança
sem caminho e sem espelho?
[...]
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