quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Da comunhão

(ou De minha varanda vejo)


Da minha varanda vejo quanto, da terra, se pode ver do mundo
— e como é de minuto o mundo...
Estou frio,
está frio,
estamos frios
— e talvez seja essa a maior comunhão de minh’alma, 
que jamais experimentei,
que jamais experimentarei.
Nestas cidades a vida é menor
que aí onde as ruas têm nome de pássaros.
Nesta cidade os grandes prédios fecham a vista à chave, 
e apartam a alma do sol e do sal.
A pessoa na janela ao lado 
parece-me mais distante de mim do que minha mal-afortunada linhagem, 
há muitos anos extinta
— sou o fim de uma raça?
O que houve connosco?
Há pobreza d’olhar e por isso d’alma e por isso de mundo
— ou ao revés,
não sei bem qual a ordem dos fatores, 
ou a direção do vetor,
contudo toda esta miséria é palpável a blocos de concreto
que apartam sol e o sal da terra. 

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