terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Chá com a tristeza

Sentia-se mais e mais triste. Seguramente não era a primeira vez que alguma tristeza puxava uma cadeira em seu coração e se sentava ali para tomarem, juntos, uma xícara de chá, porém, diferentemente do que lhe era de costume — sentar-se com a tristeza para um chá e converter cada palavra da conversa em lágrimas, vertidas de seus olhos, saindo da parte de dentro de sua alma e escorrem pesadas em seu rosto —; diferentemente desse encontro costumeiro, ele entristecia-se sem derramar uma lágrima, sem que uma palavra se sublimasse em choro. Seu corpo, ele tornava-se apático... Ou hepático, assim, com algum grau de coragem que enobreça a pessoa e de refazimento prometeico. Será que aprendera uma arte trágica — coração vigoroso? — ou se trata de uma técnica niilista — alma ressequida? — que havia incorporado? Sentia-se mais triste, porém sem pranto. Ainda sentava-se à mesa com a tristeza para uma xícara de chá, em seu coração, más já não adoçava a bebida com gotas de suas dores, já não liquefazia as palavras. Entristecia quase cronicamente, porém não chorava (mais).

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