Eis aí as pequenas flores negras
— olhos da noite,
garganta do infinito —
esses por-nada,
ervas daninhas são elas?
Havemos, pois,
de arrancá-las,
sempre,
do mundo,
— uma a uma —
do solo,
— pela raiz —
da pele,
— por completo —
da carne humana,
— até que se extingam —
da lavoura de homenzinhos?
Eis aí as pequenas flores negras,
esses por-nada,
que formam uma roça
lá
nos depósitos dos
fracassados,
inúteis,
desprezíveis
e desventurados,
dos quebrados partidos avariados
risíveis,
absurdos,
(quase) esquecidos
e (perpetuamente) amaldiçoados,
vis,
parasitas,
vagos,
parafílicos
vazios,
perturbados
vagabundos
e desajeitados;
esses asilos
— e exílios —
de ruínas do homem-que-somos;
Eis aí o quartinho dos fundos
da casa do
homem com
agá maiúsculo,
direito
e dono de si
(e da Terra e de tudo o mais que possa ser nomeado)
de pleno direito
(inventados em sua avantajada caixa craniana);
homem com
agá maiúsculo,
de bens,
bondoso,
que
jamais foi ridículo,
que
jamais sofreu um enxovalho,
que
cada erro foi ato falho,
que
nunca teve uma conduta de infâmia
(em vez de pecado)
e de covardia
(em vez de excesso de sensatez ou cuidado),
cujas violências, todas, foram em autodefesa
(e não paixão e medo)
e cujos feitos
(perfeitos),
todos,
performados como planejados
e,
se não primorosos em cada etapa,
por culpa do azar.
Ah, esse homem
responsável
(pela miséria do mundo
e por tanto,
irresponsável no trato com tudo que o sol toca,
e ainda mais com o cemitério de elefantes),
razoáveis,
racionais,
comedidos,
civilizados
ou cordiais.
No ranchinho desse sujeito,
jogados à sombra e a portas fechadas,
jazem
e/ou
quedam
(e/ou
cantam e dançam quando ninguém os mais vê)
os humanos em que ainda brota essa flor,
negra flor,
pequena flor
— botão de caos —;
os humanos que ainda sabem olhar o acaso nos olhos
sem temer
— quando não, audazes, o esperam no porto —,
capazes
de amá-lo,
capazes
não fugir dele ou não desejar liquidá-lo,
capazes
de (só) não desejar
e abraçá-lo.
E como existem estes humanos aí? Envoltos
e movidos
num existir
e agir
puro por-nada.