Vida indigna
O salário nem é tão minguado,
O trabalho nem é tão alienado,
O almoço nem é tão insosso,
O sono nem é tão pouco,
O tom nem é tão rouco,
O amor nem é tão amargo,
O risco nem é tão largo,
O horário nem é tão ruim,
O ônibus nem é tão lotado assim,
O quarto nem é tão pequeno,
O contentamento nem é tão ameno,
O tecido nem é tão roto,
O futuro nem é tão imoto,
O tênis nem é tão velho,
O sangue nem é tão vermelho,
O corpo nem é tão dolorido,
O cérebro nem é tão exaurido,
O pão nem é tão caro,
O prazer nem é tão raro,
O dedo nem é tão comprimido,
O caminho nem é tão comprido...
Mas a vida ainda segue indigna,
Exalando miséria,
A alma ainda vive a dor do não realizado,
Da felicidade parca
E da paz impossível.