segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Sem números...


Aforimos aporismáticos

Eu, meditabundo, arrisco:
Se a vida é um risco...
Seria o nômade um corpo em linha de fuga?
Uma eterna curva?
Seria Zaratustra um halo?
Uma partícula a orlar e vincar um valo(r)
Não seria a norma-comum
uma curva que tende seu grau forçosamente a um?
O deserto e a floresta lugares em que as ilhas se perdem?
Onde não há os metros que as med(r)em?
Se, assim, o mapa fica sem (re)(in)verso – onde o decalque não versa
a cartografia é conversa –
seria a solução uma solução?
Ou tudo o que resta é transpassar sim-não?
Não resta, então, circundar eternamente os fantasmas e os outros?
Articulando olhares, dobrando os doutos
e fazendo das palavras e faces quebradas retalhos para costura –
quadros e diagrama de um futuro pós-humano?
Onde se bem e maldiz além do bem e do mal, além do sagrado e do profano
Em que a mão que martela também sutura!
Destarte, não se teria ouvidos e olhos, peles, narizes e línguas
Para dar sentido e dialogicidade ao monólogo que diz em ínguas:
“Não se estaria fadado à infelicidade e ao fracasso,
enquanto, como viga de concreto-aço,
ou feito ser-meritalo
se quiser entender e interpretar o mundo, ao invés de senti-lo e experimentá-lo?”
Não se cravaria como apotegma no interior da retina:
“Acordar no outro dia virou rotina?”
Para então realizar até no cisco
Que a vida, a vida meu caro... é um risco!


sexta-feira, 4 de novembro de 2011

In-kategorischer über-aktiv:

Fugas...

Espero que as fugas
nunca sejam da vida
Espero que elas sejam sempre da vida - de vidas
Devidas e indevidas,
precisas e imprecisas,
contudo, que sejam vividas
Vívidas, então,
que as fugas sejam daquelas que ficam entre os ladrilhos rijos
e que permitem respirar mesmo a escuridão
Que não sejam fugas de medo,
porém, fugas que se contraponham, que repitam suas polifonias
até diferenciarem, derivarem em outro e racharem o mesmo.

Fugas. Fugaz. Folgaz. Fullgas...







Labor-oratório...

Da palavra

Quem lavra o oco ecoante da palavra
usa apenas a cabeça ou com a pá lavra?
Sabe o peso do verbo ou apenas ladra?
Porque nunca num caso ou noutro ela não deixa de ser ladra...

Suga teu sentido
Cospe teu desejo
Engole o que tens vivido
e arma o ensejo

da ambigüidade
faz do teu corpo vida
e não deixa que se acabe, de larva em larva,
em tudo ou nada...


quarta-feira, 7 de setembro de 2011

linhas de (des)montagem

In-Feliz-Cidade

Da fonte que verte a utopia
ao monte de lixo e entulho que se esvazia
num canto qualquer do seu corpo
vê-se no fundo, por entre,
no chão, no ventre
do-ente o orto
que monta a cidade

domingo, 17 de julho de 2011

Uma ária entitulada:

Um canto heróico quebrado

Por um cisto no peito
Eu cisco na minha alma
Busco, em mim, pelo leito
Em que te encontro salva
Lugar em que se agite
Centelhas de memória
Um risco sem limite
Sem telha ou divisória

Em que o vazio verte
E, então, “amo-te!”
É mais que uma sentença
Pois tornas-te presença

Movendo-me a uma dança,
De onírica sonata,
A qual nunca me cansa
Ou na face aclimata
As lágrimas que correm
Levando em si a saúdade
Dos que sozinhos morrem
Nesta imensa cidade

Da turba solitária
Que em toda sua área
Distribui, em matizes,
Tais corpos infelizes

terça-feira, 12 de julho de 2011

Imperativos hiperativos

Aos anjos de Augusto

Mata tua quimera, sê tua própria pantera
Toma-te e acenda-te, fuma-te como um cigarro
Vomita tua ânsia e cospe o medo num escarro
Não sê deus, sê fera e medra-te como hera

A mão que acalma é a mesma que laça
Então, desvia dessa mão dócil que te adula
Apedreja a boca muda que ainda a ti oscula
Faz, assim, da tua máxima ira a tua maça

Se te deixas morrer de modo afável,
Sem nem te debateres contra a sentença,
És, até os ossos, um homem miserável

Por mais que te seja o fim inevitável,
Não crê ser tua existência uma doença
Pois tua vida é uma criação infatigável

terça-feira, 28 de junho de 2011

Fragmentos (V)

Biopolítica das paixões

Quando seu coração não puder mais ser unidade
Quando pulsar não mais como indivisível
& você não souber qual migalha, na perenidade
Do seu coração, você quer inamissível
Você acaba por escolher um ou alguns poucos pedaços para manter vivos,
Para mantê-lo vivo
& quem sabe permitir-se saborear
Mais uns chocolates & cafés sem convulsionar

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Considerações sobre o governo:

Ética

A reflexão que me abunda
entorna dúvida e exige atitude
Autoclínica como forma que funda
todo um movimento de dobra em solitude

Ao súbito desconforto
não busco resposta-concreta,
tomo energia, lanço-me do porto
ao mar do novo, contra pronto insurreto

Nem aqui, nem lá,
sempre numa corda bamba
no tênue limite do titubear

no estreito de morrer,
no zai-e-vem de uma mamba
apenas no experimentar ser



segunda-feira, 13 de junho de 2011

Poema quasimodal, quase modal, quase moldal

Trê(è)s já é motim

1 fluxo
2 fluxos
& se vai-a(à) vida frouxa

Um fluxo
Uns fluxos
& se vai carregando a-tro(uxa)

O vento sopra lá fora,
tão lento quanto um tornado,
tão rápido & transtornado
que leva junto a memória
- que é de nós a escória
& a (es)cora do passado...

Contradição com tradição.
Sem tradição a contra-contradição
& vai contra... Sempre contra
& conta quanta vezes se perdi sem perder a conta,
quantas vezes me ca(n)samos,
quantos nós se perdestes em quantos deles somos tu
& quantos a voz a-vós a(ma)mos

O fluxo & o flexo:
Um "total flex" que corre feito feixe de luz
Como já há o peixe morto, bordado, ponto-cruz,
somos liberados a idolatrar a nós(,) mesmo(s) perplexo(s)
Em fugaz fuga da fogueira or(i)ginal ou final
como se o final não nos esperasse logo ali,
como se o final já não acabara de passar & logo se punha a estorvar o futuro & presente presente em cada laço
Laços do engodo?
Lassos do engodo?
Lá a sós do engodo somos gordos?
O presente do presentismo inexorável
Exorta a exorável....
Mundana mudança no chorável desencanto
Do mundo: mudo, imundo, moribundo & desnudo aos odores vagamundos, vagabundos, dos eternos errantes mortais

sábado, 21 de maio de 2011

O caos, o ocaso & o acaso:


Pontos mil, mil platôs...
Sem rio, sem fio condutor
Só sorriso & terror
Sem medo, sem rancor:

Estrastos & tratores
estratores de verdades
- Querem ver dados velados?
Vêm lados cotrários do mesmo topo,
o topo das obliquidades

Sem lados, translado - de lado,
cruzado & transversal -
versando o animal, o rizoma, banal,
mas intensamente a potência,
a esquizo-demência

Perceber a poeira,
a prostrada centelha
de restos & restolhos,
de antanhos estranhos,
aos nossos olhos
outro conto de fadas
- Quantos contos por uma verdade?

Sua vida por uma verdade
A verdade por uma vida toda
& toda sua magoa é bondade & não cria,
você só queria a pintura pronta - a si a coda!
Acuda, por favor, acorda... a corda, a corda.



segunda-feira, 9 de maio de 2011

Sonata em Si maior:

O cardeal cardial

na espacial solidão
resta-me o labirinto do coração:
uma rede de galerias e galeras que partem ao mar,
o navegar incessante sem porto seguro para se pousar

na humana finitude
resta desdobrar-me em atitude:
resistir ao imundo mundo que me devora como o tempo
fugir e fluir, rebrotar logo ali, sem mais pranto e lamento

no devir e no dever
resta-me a tensão de saber-poder:
forçar o lado de fora que se enlaça e faz graça
graças ao pensamento que se enrosca e cria couraça

no super-homem
um novo por-vir/pouvoir, a morte do homem:
o novo que não é nem infinito-deus nem é pura finitude-estéril
é o novo incansável, relutante e indomável: o múltiplo – pueril

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Considerações sobre o tempo 2 ou...

 Da morte 
(de cada dia)





Como se pode perder tempo se tempo é infinito?
Considerou uma vez um mancebo sobre o tempo.
Pobre garoto, não sabia que o tempo, tão cogito
à primeira vista, não é mais que um templo,
construção histórica, entre as arquiteturas humanas,
que pode durar apenas uma fração alcalina ou inteiras leneanas
& é aí que ele se apercebe de que a morte não é destino da vida
Não é abrupto momento que nos rouba todo fôlego de maneira leviana
são várias experiências por toda a sua existência divididas

terça-feira, 26 de abril de 2011

LANÇADO O LIVRO:


Palavras vomitadas - la poésie est dans la rue
Luiz Augs



"Um emaranhado de paixões, angústias, desassossegos, sensações das sensibilidades regurgitadas em escrita. Há algo ali (aí, de si, pra ti, pro todo, único) que conduz ao delírio, rabisca o muro que habita os órgãos, organiza os aços em carnes produtoras. Descobre, desestabiliza, reinventa o nada, a morte, a vida. Que vida? Que morte? Que nada? Cruel das certezas grafitada de ruídos!"
 - Beli Lessa


Produzido, impresso e lançado com o apoio de:



http://estorvorecords.tumblr.com/     

&       

 
      
                  


http://editoraprovisoria.blogspot.com/


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para comprar o livro mande um e-mail para: edi.provisoria@gmail.com
ou
baixe a versão e-book







domingo, 20 de março de 2011

Pergunta-se:

Difícil de ver o (im)possível devir?

...e quando não há mais espaço para o debate,
os corpos se debatem em busca de vácuo, em busca de ar,
precisam de vida, precisam respirar

Os corpos irrompem, no limiar,
de volta ao nada, para além do mesmo, algo novo
- Dever de devir ou pulsão de amar?

Para não mais dividir, nem simplesmente somar
potência ao corpo, corpo em demência...
falência múltipla de órgãos para um corpo salutar

domingo, 6 de março de 2011

...

Isso
Isso
Isso
Isso


.
.
.

Isso
Isso
Isso
Issôo
Issôo-o
Isso
Iso
Izo
Izoo
Zoo
Izo
Esquizo
Isso
Isso
Isoo
Isooo
Iooo
Io-io
Iooooo
Ioooooo
Isoooo
Isso
Isso
Isso


.
.
.

Isso
Isso
Iss
Isss
Issss
Isoso
Sos
Isso
S
SS
S
SS
S
SS
S
SS
S
S
S
S
Ss
S
S

S
S

S
S

S
S

S
S
S


.
.
.


S
S
S
S
Iso isso
Isso
Si

Issoo

Isso


.
.
.

Isso
Iss
o
Is
s
o
I
s
s
o

.
.
.


... Isso ISOSI IssO IsOs iSSo IsSo iSoS issO issO iOOOSSS OOOSOSOSOSO
Ossi ossi ossi ... ossi ossi
        osso osso so ...
                                .
                                . 
                                .
                                  ...

sábado, 5 de março de 2011

Relâmpago de insanidade:

Breve dialogo

MORRE, VIDA, MORRE! – Esbravejou a Morte.
Morrer? Não posso – disse a Vida – Eu tenho de viver, eu tenho de florir, germinar e foliar...



ressonâncias de...

Atônitos antônimos de antíteses & sínteses

& o incômodo passional
que pensei jamais me abalar
abalou-me

& a infantilidade possessiva
que pensei para sempre sobrepujada
sobrepujou-me

& sem rima
nem concentração
na imperfeição da paixão
que não acalma

tudo se repete
nada se encarna em palavra
tudo flui na arma que escalavra
e mancha o carpete

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A sintaxe da:

Sociedade de individualidades

No “nós”, no “eles”, no “vós”
há sempre ecoando a voz
de um “eu”, um "tu", um “ela”
emm constante querela
que quer ela,
que me quer,
que quer a vós,
que quer a voz

Em uma guerra diária
de consumo e inclusão de área,
de espaço e mercado,
de laissez-faire e cercado,
que quer ser cada,
que quer ser tudo,
que quer cada pedaço,
que quer o frasco

Mudo,
sem voz,
O mundo
sem vós
seria outra coisa
Séria outra coisa
Que não coisa em seriem
Nem em si
 Um sim
Um fim

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Na tela-vida:

Rabisco em crayon

O barulho da chuva do lado de fora era a trilha sonora desta história, uma história dentre outras tantas, que talvez não lhe faça sentido e que talvez nem mereça sua atenção, mas que mesmo assim é uma história.

Enquanto um mundo todo corria lá fora e um bilhão de coisas passava pela cabeça daquele jovem rapaz, o suor multiplicava-se no seu corpo com a passagem dos segundos e o ritmo que acelerava até alcançar o clímax, o jorro, o orgasmo. Fechou os olhos para perceber-se. Após o despejo do gozo restou ali, não apenas um corpo vazio, mas, uma alma cava, oca onde ressoavam lamentos de um existir incompleto, impróprio e inumano, um existir restrito, vão e suicida.

Então, ele sentou-se e sentiu-se num mar de um nada nadificante, percebeu-se prostrado diante de uma nulidade gratuita da potência do ser, achou-se perdido, o sentido de tudo até ali havia definitivamente se furtado. Tentou, depois, aconchegar a cabeça no travesseiro branco, pressionou-a contra a espuma velha, afundando a cabeça até quase sentir o colchão, porém, o aconchego nem sequer aproximou-se naquele momento, estava desaparecido na imensidão vazia que seu corpo comportava, agora. Uma profundeza escura, estéril, histérica, estreita, estonteantemente estática, estridente, estrondosa, extrema, extrínseca ao ser e extrusiva da vida.

Na tentativa de preencher o vácuo no peito não conseguiu nada senão aumentá-lo, expandi-lo a um tamanho insustentável à leveza do ser. Criou um buraco negro insubsistente à massa da vida, dragando-a à negação da existência, em propriedade do ser. Ao abrir os olhos outra vez percebeu um corpo glacial, sentiu-se num coito com um cadáver, sentiu-se como um necrófilo do romantismo à meia noite em um cemitério e este cemitério era ele mesmo, ele já era um cadáver, ele era frio e morto. Passou a mão pela cama tentando sentir calor, mas tudo o que havia ali eram objetos sem vida, sem amor, sem paixão, imóveis.

Levantou-se e olhou ao redor, tudo o que podia ver eram objetos sem vida, sem amor e sem paixão.

Vestiu-se e saiu do quarto indo em direção à cozinha, deu um giro formando um panorama do aposento. Andou até um dos armários, abriu a gaveta tirando de dentro dela uma faca de cabo preto e lâmina de aço inoxidável, passou o dedo indicador lentamente pelas faces da lâmina, primeiramente na parte superior, depois voltando pela inferior, repetindo o movimento algumas vezes; em seguida encostou a lâmina na parte interior da mão, pressionando o gume contra a palma e, deslizando-o para baixo, pode sentir-se outra vez, pode sentir o metal frio entrar na carne fazendo um risco de sangue na mão. Algumas gotas de sangue caíram no chão, outras ficaram na faca. Olhando fixamente para seu reflexo na lâmina da faca, levou-a a boca, limpando o rastro de sangue sobre a faixa de metal. Passou-a outra vez sobre a língua, mas agora com mais força, queria sentir o aço cortar-lhe e o fio de sangue cruzar-lhe a língua. Engoliu o sangue em sua boca, tentou sentir-se vivo outra vez, mas já era tarde, seu sangue já era frio. Já não havia mais vida naquele corpo, os ossos rangiam e gemiam e clamavam por um fim, a vida estava se exaurindo de cada rincão de seu corpo. Cada órgão, cada tecido, cada célula de seu organismo estava desfalecendo em desânimo.

Entrou no banheiro ajoelhando-se diante da privada, o altar de sua existência medíocre, aspirou, aspirou o cheiro podre que vinha dela, aspirou por algo mais, no entanto a podridão que saía dali era um belo perfume perto da putrefata alma daquele humano, daquele sac à fiens largado na frente da patente. Vomitou violentamente tudo o que havia dentro de seu estômago, uma golfada de suco gástrico, que passou queimando-lhe a garganta, rasgando-lhe a traquéia, porém aquilo não era muito, ali ficou o pouco peso que ainda oscilava dentro de seu corpo. Levantou-se cambaleante, moveu-se calmamente para fora do banheiro, depois atravessando o corredor até alcançar a porta principal. Estaqueou aí, puxou ar arranjando fôlego para ir além.

Saiu da tranqüilidade triste de sua casa, ao abrir a porta, inalou profundamente o gás carbônico do mundo ali. Moveu-se para fora procurando a expectoração última do viver, pondo-se diante do abismo gélido que a cidade é. Sentiu o denso sopro da morte roçar-lhe suavemente a face, enquanto a seda mórbida da noite cobria seus olhos.

Ao longe, uma luz amarela cortou o véu e perfurou-lhe a vista. Sem tentar desviar o olhar, moveu-se alguns passo a frente na direção da luz, para o meio da estrada, em busca do fim.

Um carro vermelho, modelo novo, com freios em perfeito estado de funcionamento, a uma velocidade não muito acima do que a placa, no alto do poste, permitia, golpeou o corpo já internamente moribundo, encerrando a ânsia daquele jovem rapaz, naquela triste madrugada de segunda-feira.


sábado, 5 de fevereiro de 2011

Num dia qualquer:

Um relato confuso do meu fim.

O céu azul,
As brancas nuvens de algodão,
Os pássaros gorjeadores de cores mil
O solo fértil por onde corre o límpido rio
O vento vivido faz vocalização
Nas copas das árvores – Ah, vento sul

Para além da pintura idílica pregada na parede vejo um céu cinza,
Vejo nuvens cinzas,
Vejo pássaros sem asas que não sabem mais cantar,
O vento entoa o som das fábricas, no ritmo frenético do consumo – Ah, o vento do capital

Ao meu redor? Vejo o mundo!
& tudo está conforme
& isto é que o deixa mais podre
& é isto que me faz mais eu

Eu me sinto numa cadeia,
Eu me sento numa cadeira,
Admiro a taça a minha frente,
Olho o líquido em seu interior borbulhar.

Eu vislumbro suas possibilidades & imagino-o em mim,
Experimento sua potência fluir em minhas veias
Eu o bebo,
Eu o sinto descer minha garganta, queimar meu peito & cortar minha alma.

Mas isto não basta!

Tenho-me vazio & repetitivo
Tenho-me frio, mórbido, depressivo & suicida
Em desejo decisivo opto por não decidir
Em deixar de viver & deixar-se morrer
No momento mais fortuito & soturno
No noturno breu do meu eu
Na mais infame das rimas que formam meus complexos
Que em um amplexo sufocam o ar, que não entra nem mais sai
O fim de mim mesmo, por mim mesmo

As pílulas espalhadas sobre a mesa não me tiram desta prisão – elas me prendem mais & mais!
A faca já não corta a hipocrisia do meu corpo – ela está cega!
A corda já não sustenta o peso em minhas costas – ela parte-se!
A bala já não tem mais escrúpulos a perfurar – um risco no ar!
& tudo em mim não é mais que um efeito, passivo, consciente, fraco, depressivo & suicida
Que não sabe fugir, que não consegue fingir, que não pode mais que cingir & pungir a si mesmo em um fim qualquer, em qualquer lugar, sem motivo algum & em momento comum, aqui, agora, na hora, ou outrora – na aurora, no crepúsculo, no opúsculo, sem músculos, sem ossos, somente destroços & restos de medos, angústias & impropriedades.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Fluxo:

Fuga(z)

Aqui, neste mundo onde se, ainda hoje, pode pisar, onde ainda há ar para se respirar, onde ainda há o que comer & o que beber.

Aqui, neste mundo imundo humanamente desumano, onde ainda se pode poder, onde se podem ver frestas, onde ainda pode se fazer festa, onda ainda se permite tentar, onde, raramente & a muito custo, ainda se pode – amar

Neste mundo, real, ele existiu – o mito.

O mito que se voltou a si, beijando o infinito, cuspindo em si, em sol & lá.

& enquanto todos fechavam os olhos ele abriu, abriu para seu último suspiro

Um suspiro vigoroso, forte, intenso, vivaz & pulsante.

Suspiro que, em sua ânsia de ser livre, esvaziou aquele peito aberto, marcado por chagas.

Chagas vivas & vermelhas, chagas de quem abre o peito ao mundo & escarra palavras em parrésia à amnésia cultural.

Suspiro que esvaziou o peito, carregando consigo a alma – a vida.

Uma vida intensa & sem medidas.

Em sua realidade descabida um ponto qualquer no que quer que seja o tempo. Mas, junto, deixou uma gigante cratera no coração da humanidade.

Humanidade?!

Bem, nos humanos demasiado humanos, nos humanos deificados por si mesmos &, assim como os outros deuses, por eles também assassinados.

& bem nestes humanos, é que a mácula de imperfeição, o tiro final & fatal abriu um rombo em sua etérea-natureza.

Assim, morreu um indomável, inamável, insaciável ente – doente social.

Um anárquico pulsar histórico em rota de colisão consigo, em linha de fuga – em fuga de sua identidade, em busca de outro – outro eu.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Contra o império devastador do cimento, da ciência e do medo:

A misantropa

Ela estaqueou no meio da praça, mesmo parada sentia o mundo girar. Girava num ritmo que levou alguns minutos para que se sentisse tonta e, então, tentasse voltar a si. Ao fazê-lo olhou as pessoas ao redor, parecia que para elas tudo se mantinha em perfeita ordem.

Sentou num banco, demorou-se ali algum tempo contemplando as flores do canteiro ao seu lado, passara algum tempo até que se saturasse delas. Mirou o céu, mas não o tinha em mente, seu olhar era de um vazio assustador, um nada angustiante. Passou a refletir sobre si, começou a pensar sobre o que vinha sentindo nos últimos dias, uma sensação plúmbea no peito, que afetava sua respiração, que dopava lhe o olhar, que inebriava sua alma e por fim causava-lhe tremenda insatisfação – pulsava-lhe um desejo suicida nas veias.

Todo este coquetel de emoções havia se agravado nas últimas horas culminando neste passeio pelo parque, num caminhar aéreo e vago, quase que desnorteado.

Assim falava a si “Sinto falta. Falta de mim, falta de atos, de Ethos, de Eros. Falta de erros. Erros que me façam pensar, erros que me façam repensar”.

Poder-se-ia enumerar mil acontecimentos naquela praça, o cachorro atrás da criança, a criança atrás do pombo, o pombo atrás de comida que ciscava o chão, meneava a cabeça em sincronia com os passos, acelerava os passos em fuga da criança até precisar voar. Mas o que verdadeiramente voava era a mente, a mente da jovem vagava para tão longe, mas não para os céus ou para o espaço, voava longe na imensidão vazia de sua alma, no abismo aterrorizantemente inseguro que abrigava em seu peito – de onde vinha aquilo ela fazia nem a menor ideia.

Poder-se-ia enumerar infinitos detalhes, o chão de calçamento quadriculado, alternando entre um preto gasto e um branco sujo, os bancos puídos pelo uso e pelo tempo, todos aqueles brinquedos consideravelmente abandonados pelas crianças, que hoje mais preferiam um jogo virtual. Talvez fosse isto, toda sua vida lhe parecia tão desproposital quanto um jogo deste tipo, tudo lhe parecia, cada feito seu, cada sensação sua, cada toque na face, cada cor das flores, tudo lhe parecia artificial e de uma artificialidade humanamente mórbida.

Toda aquela meditação àqueles sentimentos incógnitos a fazia vasculhar por entre as lembranças o que a causava tal frustração, algum desejo irrealizado, algum sonhos perdido esmigalhado, algum trauma – naquele instante de introspecção assustava-a quão traumática fora sua vida, cada minuto, cada fragmento de memória, cada respiração, toda a sua vida parecia um imenso trauma, trauma a si, trauma às pessoas ao seu redor, trauma ao mundo. Ah, imundo mundo que fora contê-la, maldita prole que ela viera a ser… Ser? Naquela hora, meio-ser, quase-algo, era isso que ela sentia "ser" agora.

O tempo passou sem que ela pudesse, ou mesmo quisesse quantificá-lo. Sua visão fixa ainda ao além-aquém denunciava seu estado meditabundo, sua face inexpressiva escancarava sua depressão, tudo que em sue âmago pesava, vazava-lhe aos olhos. Ainda ali, na praça, estática, apática, sem visão estética ou conduta ética que firmasse seu ser, esta mulher de pouca idade havia, paradoxalmente, se firmado. Havia feito uma irrevogável escolha, havia tomado uma resolução, que a marcaria até o fim de sua existência, de sua tranquila, débil, enfadonha existência na normalidade.

Havia decidido que não iria matar-se, não ia entregar-se tão facilmente assim a mais um capricho de sua alma, sabia que poderia resistir a mais isto. Foi assim, resistindo a saciar o que talvez fosse sua mais sincera pulsão à felicidade, que ela morreu amargurada em uma cadeira, sentada com a boca escancarada esperando a morte chegar, com os remédios impedindo-a de mergulhar em seus devaneios, prendendo-a à racionalidade atroz que a cercava, mantendo-a longe de seu reino de fantasias, sã e salva da loucura que crescia em sua cabeça, dia após dia, reflexão após reflexão. Aliás, disto estava, também, ela salva, as vis reflexões não mais eram possíveis, uma vez que tudo isto havia culminado em uma incapacidade de concentrar-se em qualquer coisa que fosse por mais de segundos, em contraponto com o seu olhar que era fixo, outra vez ao nada.

Assim morreu a mulher condenada por misantropia. Misantropia ao mundo e a si mesma. Misantropia que a levara ao distúrbio mental da alucinação. Distúrbio que a levara ao disparate de frases como “O fim do Homem faz-se necessário!”, “Urge extinguir isto que hoje pensa reinar sobre a terra!”, “Ainda não é tarde para por em queda o império devastador do cimento, da ciência e do medo!”.


quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Um – híbrido – desabafo:

Sensações & perfumes

Numa noite silenciosa, onde o ar parece imperceptível, a música, epilética, embala as sensações. Numa atmosfera perfeita os pensamentos caminham em silêncio, um silêncio belo em harmonia com a noite

Ali, sentado, numa simples cadeira ele trouxe o braço até próximo do nariz.
Fechou os olhos & inalou, profundamente.
Farejou & rastreou por resquícios do perfume.
Desceu cheirando o braço em direção à mão.
Alcançou as pontas dos dedos.
Estavam lá! Os resquícios – do perfume!
O perfume profundo, intenso feito vida, abrasante feio amor, que queima sem ter medo & consome sem pudor.

Tamanha a sede pela fragrância, tamanho desejo de sanar a ânsia, fê-lo drenar cada grama do deleite até se apagar da pele & restar apenas em sua memória sua efêmera memória de centímetros de sentimentos & sentidos.

Em busca de novos toques que capturem moléculas que configurem a sanidade em outro corpo, que devolvam a si a calma, que devolvam a inteireza à alma.

Desejou-se, então, amoral & imoral.
Criminoso marginal louco & devorador.
Desejou toques múltiplos & orgasmos suaves.
Desejou beijos espasmódicos & sinestésicos,
Ensejou novas experiências, mas só em sua mente.
Em sua mente outra vez ensejou louco amor.
Amor bandido banal insano & criminal.
Amor livre leve loucamente novo, que relembrasse & proporcionasse sensações.
Causando aprazer além do toque, um prazer do perfume no ardume do viver experienciar & arriscar.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Um escrito:

Sobre a bolha de sabão que se é
ou
A insustentável leveza do ser
ou
Sobre a fragilidade do ser

Uma vez um amigo me disse que o viver é igual uma bolha de sabão. Uma bolhinha que se move anarquicamente com o vento, assim como o pulsão da vida nos move para lá e para cá, e não nos permite parar, assim como as forças que nos torcem e retorcem sem que possamos saber quem estas são. Bolha reluzindo à luz do sol, belamente, como se brilha à luz do viver, à luz das sensações. Mas sempre uma bolha – frágil.

Aquilo por ora me bastou, não houve profunda reflexão ou introspecção.

Todavia, hoje, numa bela tarde de domingo, sentindo o vento autunal, fresco, refestelando-se na minha face, apercebi-me meditabundo.

Próximo a mim uma criança alegremente corria de um lado a outro, fazendo bolhas e sorrindo, sorrindo e fazendo bolhas. Mas minha atenção não era para a criança, não mais, mesmo que suas gargalhadas cheias de infância vez ou outra cortassem meu pensamento, atraíssem-no para seu regozijo na simplicidade do ato.

Fora estes lapsos, o foco eram as bolhas. Mais especificamente duas. Em momentos distintos. Uma por vez analisada, refletida, drenada em sua pureza.

A primeira, num longo sopro, dançou para fora do anel. Fixei, então, meus olhos em seu balanço, ela subiu, girou e então, veio-me à mente ser a bolha.
Ser aquela bolhinha de sabão que parecia tão cheia de ventura, tão alegre de si.

Lá – sendo-a – pensei-me divagando, e no tempo das bolhas, descobri que, antes de estourar, deveria conhecer a verdade sobre mim mesma e o mundo ao meu redor. Cheio de orgulho por tal descoberta, eu, bolhinha, aos poucos me senti inflar, inflando, enchendo meu interior, aumentando a tensão na minha tênue superfície, fiz um ridículo “PLIM”!

Junto ao “PLIM” um acordar ante o nada, o vazio, a finitude, a esterilidade, a vanidade do existir. Um pavor, uma paura abateu-se sobre mim, levando a alegria mágica do momento de introspecção, da transmutação do ser. O cenário transformou-se em uma pintura cubista de tonalidades frias e linhas agudas, uma nadificação do ser ocorreu no meu peito, até meu coração percebeu-se tolo em ainda bater.

Em desolação meus olhos voltaram-se ao local onde a bolha tivera seu último suspiro de ser procurando algum alento. Ao mirar o local, outra bolha cruzou meu campo de visão. Uma bolha completamente nova, similar em estrutura, mas diferente em potência. Lancei-me para dentro dela, ou melhor, lancei minha mente outra vez num pôr-se-como bolhinha de sabão.

Lá, por motivos que não me são ignotos, pensei-me diferente da outra bolha.
Ali, bolinha, então, pairando ao lado da bolha que havia acabado de estourar, ouvindo o “PLIM”, não vi sentido algum em retardá-lo – o meu próprio fim. Renunciei-me a ser e auto-acionei-me, então o estouro, fazendo um segundo “PLIM”, percebi que este fora ainda mais – ridículo.

Esboço sobre:

Um transbordo cenestésico de felicidade

Teve a sensação de que deveria correr. Uma alegria intensa percorreu seu corpo e ele percebeu ela instalar-se em seu peito e tornar-se felicidade.

Em sua mente visualizou-a medrar-se até ser insustentável à passividade, não tinha forças para contê-la. Ela escorria-lhe às orelhas, vaza-lhe por entre os dedos, produzira em sua face o sorriso. Não um sorriso comum, mas sim um sorriso vivo, um sorriso que exalava paixão e prazer.

Em seus olhos reluzia tanto sentimento, era ofuscante tamanha a sensação.

Tudo ali em si, tão intenso que mal podia conter tinha de reter aquilo para que lhe dura-se a vida toda.

Para que lhe durasse mais alguns dias, minutos… Ou segundos que fossem.

Tentou caixas de vários tamanhos, frascos de várias formas. Buscou diversos recipientes para armazenar m pouco daquilo. Inútil. Totalmente inútil.

Por fim correu até o lago. Lá onde tudo havia iniciado. Olhou para lâmina sem fim de água que cortava, como uma obsidiana, perpendicularmente o horizonte. Viu o sol manchar a água do lago com um dourado ímpar, já mais vira tal coisa. O sol tocava até sua alma e misturava-se à púrpura felicidade no seu peito.

Admirando a paisagem, abaixou-se, encostou as pernas junto ao peito e passou os braços dando um amplexo pela frente das pernas, suspirou e, por fim, deixou-se ali. Permaneceu, assim, abraçado com sua felicidade. Sem nem sentir as horas passarem, sem nem perceber que morria um pouco mais a cada badalada do relógio, a cada sopro do vento. Mas o que havia em seu peito, o que ele podia sentir ali – Aquela emoção sublime – fê-lo esquecer de tudo mais.

Só quis ficar ali, parado, ele e sua felicidade.


segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Na modernidade ecoante:

Narciso aprendeu a nadar,
mas continua só

Narciso aprendeu a nadar, mas continua só

Seus ossos crescem, seus ossos doem
Sua bela flor, a dor que vaza
O vazo que guarda a tal bela flor
Seus olhos vêem, seus olhos choram

E a moem a mesma dor que lhe fura outra vez

Seu corpo fala sem mais poder mentir

Seus braços crescem, seus braços que laboram
Espelho sem reflexo, perfume sem cor
Cor que lhe pinta a face e corta como faca
Seus órgãos suspiram, seu órgãos que transpiram

Seu peito sangra sem mais poder fingir

Narciso aprendeu a nadar, mas continua só
Narciso aprendeu a nadar
Narciso apreendeu o nada
Narciso não aprendeu?

Narciso aprendeu a nadar, mas continua só
Seu corpo fala sem mais poder mentir
Seu peito sangra sem mais poder fingir



segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Fração:

Sobre alguém que não sabe esperar

Não importa onde estivesse, podia ser na cama, na sala, na varanda, na rua, sob o sol ou sob a lua, nem importava o que fizesse, podia estar cantando, tocando, escrevendo, assistindo a um filme alemão ou mesmo parado sem fazer nada, não importava, só o que vinha em sua mente era que tinha de esperar a ligação.
Nada era uma distração, nada trazia satisfação, nada, nada, nada. Tudo lembrava o fato de estar esperando o maldito contato. Tudo girava, em sua mente, em torno da espera. Mesmo antes de o dia da espera propriamente dita já sabia que haveria uma espera, isso já era angustiante, a espera pela espera.
O maior defeito seu era este, não conseguir esperar. Diria mais, não conseguia deixar a espera sair de sua mente talvez nem a morte de um ente próximo seria o suficiente para distrair do fato de estar esperando. “Maldita espera! Maldita demora!” – Repetia várias vezes a si e claro, de nada adiantava para solucionar a espera.
A única solução era esta espera ser substituída por outra. Espera que se sana, porém cria outra espera, assim sucessivamente até a espera final. A espera pela morte. Porventura a morte seria a única espera que não fazia questão de chegar. Não seria de estranhar de que estas outras esperas que a antecediam fossem subterfúgios para adiar a tão temida e esperada – espera final. Isso podia se cogitar.
Podia se cogitar que ninguém ligaria, que nenhum contato seria feito e o que seguiria seria uma tremenda insatisfação que geraria a espera por alguém ou algo que suprisse tal carência deixada pela espera anterior não satisfeita. Podia se supor que caso esta espera fosse encerrada com a ligação outra pior se sobre poria e, esta, quando eliminada, seria sobreposta por outra pior e assim até que, talvez, e somente talvez, gerar-se-ia um desejo suicida para acabar com as esperas.
Mas não iria matar-se agora, precisava esperar pelo telefonema e tinha de garantir que tudo estivesse funcionando perfeitamente para que pudesse recebê-lo quando e caso ele chegasse. Toda sua atenção volta-se para o aparelho telefônico, não conseguia focar no livro, no filme, na música, na conversa das outras pessoas, nem mesmo em seus pensamentos – que agora eram uma geleia de ideias.
Por vezes ficava olhando o telefone. Encarava-o como se estivesse tentando explodi-lo com o poder da mente – que obviamente não possuía. Obviamente também não queria explodir o aparelho, precisava dele funcionando plenamente para que ligação pudesse acontecer. Se por algum motivo aquele telefone parasse de funcionar sabia que aquele seria o momento em que alguém ligaria, seria naquele exato momento em que o telefone tocaria.
Aliás o cuidado para garantir que, com o aparelho funcionando perfeitamente, se ouvisse o aparelho tocarera constante. Para qualquer canto que fosse levava consigo o telefone, mesmo quando ia de um aposento a outro apanhar um pouco d’água, coisa de nem dois minutos, levava-o consigo, tendo em mente que a distância entre os aposentos era de alguns metros e o volume da campainha do telefone era suficiente para se ouvir de uma distância bem superior a esta. Mas em sua mente todo cuidado era pouco.
Em certos momentos descontava sua incapacidade de lidar com a espera na inocência silenciosa do aparelho. Berrava, xingava, esbravejava, lançava seu palavrões mais ásperos e fazia jorrar toda sua raiva sobre o eletrodoméstico.
Em outros era um ser peripatético, movia-se de um lado ao outro tentando achar soluções, tentando entender a demora, tentando sublimar a espera, tudo em vão, tudo um amontoado de frases, fragmentadas, sem nexo, sem sentido.
Um monte de desculpas que se moviam de maneira bipolar, os pensamentos vagos que corroíam o tempo sem deixar esquecer-se da espera. Espera. Espera. A fera. Quimera. Quem dera poder sobrepô-la, superá-la, entendê-la, esquecê-la. Fazer daquilo mero passado.
Mas não era assim, aquilo se tornara um muro de casa de detenção. O muro. O murro que o impedia de seguir. Impedia de ser mais, de pensar mais, de fazer mais que só esperar. A espera pela pantera. A pantera que devora sua alma, em uma mistura de medo, angústia, resignação e insegurança.
Se soubesse como lidar com a espera. Simplesmente, se soubesse esperartudo já não seria um problema, tudo seria um doce deleite. Uma magnífica expectativa pelo que viria a ser, sem pré-ocupações mórbidas. Se bem que seu problema não era as pré-ocupações mórbidas, sequer eram pré-ocupações, eram apenas um não poder esperar, não lhe importava se viria a ser ou não, como viria a ser ou como deixaria de ser, apenas o fato da dependência de outro, isso sim, era doentio. Aquela maldita espera era mórbida, era um gangrena em sua alma, que só tendia a piorar.
Mas acima de tudo isto, ainda estava à espera da ligação. E só isto importava. Esta espera e nada mais.

Um ente...

Entre uma taça & a couraça

Ela decidiu fechar os olhos para tentar sentir o frio da taça em sua mão. O frio do cristal, em contato com o frígido gelo que flutuava num líquido rosado semitransparente. Mas seu corpo era mais frio, seu corpo era gélido, um composto inorgânico de matéria negra no interior de um moribundo cadáver de átomos de carbono perfeitamente combinados segundo uma ordem irracionalmente caótica & irrisória demais para explicar a vida em um corpo como aquele.
Na tentativa de encontrar alguma sensação, alguma exposição do calor da vida em si levou o copo à boca, virou-o de forma a poder ingerir todo o líquido em seu interior.
De uma só vez o líquido desceu, garganta a baixo, queimando-a & por fim dissipando-se no infinito de seu estômago. A sensação cortante lhe fez morder fortemente o copo, mordeu o mais forte que pode. Mordeu a ponto de o fino cristal partir-se, fazendo diversos talhos na parte superior & inferior de seus lábios. Talhos finos, longos & profundos. Talhos rápidos & precisos.
& entre a carne de seus lábios & o cristal da taça espatifado, misturava-se o sangue. Sangue vermelho. Sangue intenso, vivo & voraz!
Sangue que em segundos jorrava-lha à boca, banhando-a de um rubro manto. Mas não foi dor que lhe transbordou junto ao sangue. As hemácias vazavam-lhe aos vasos carregadas de euforia, sobejavam uma satisfação ignota, nova & incrivelmente impar.
Como se presa a um cenário onírico, ficou, ali, refém desta sensação durante minutos, vários & longos minutos. Minutos que seu cérebro não saberia contar. Seu cérebro pôde apenas titubear entre um nada incerto & certo nada em que todas as palavras cabem, mas nenhuma, nem a soma de todas o completa, o preenche.
& ao fim, ao dar-se conta de si, ao olhar para fora de si, percebeu seu corpo estendido ao longo da sala de estar, por sobre o carpete, ao lado de um sofá branco, importado, fino material.
Ao seu redor, cercando-lhe, havia um grande número de pessoas, dentre as quais as caras variavam entre desprezo, nojo, espanto & desespero. Algumas mãos tapavam os próprios olhos, outras os olhos ao lado, outras mãos iam das laterais da cabeça à boca. Aos seus ouvidos a contemplação de gritos horrorizados mesclava-se com resmungos de indignação, balbucios de escárnio & passos frenéticos. Por fim sentiu a sua visão turvar-se & escurecer-se até ser totalmente coberta por um véu negro, negro como a matéria de seu coração, negro & frio como seu interior.

sábado, 15 de janeiro de 2011

C'est la modernité:

Main-d'œuvre esclave et le sueur de la plante comme les parfums

& se teus braços não mais são de carne
& se tu não eis mais um todo – eis fragmento
& se a tua miséria lhe é dada como encarne
& se tua vida lhe é consumida a cada momento

É porque estais na modernidade

& se não te pertence o fruto do teu labor
& se não te parece tua autonomia o sumo
& se já podes até mesmo comprar amor
& se teus desejos são objetos de consumo

É porque compartilhas minha realidade

& se não há mais revolta contra a fome
& se não importa que se morra de fome
& se há censura ao pensares em quem passa fome
& se só a humilhação pode saciar tua fome

É porque estais no Capitalismo

& se não mais podes criar nova singularidade
& se não há coisa que não possa ser vendida
& se tens de adequar-te a uma identidade
& se tudo é incluído ao consumo, sem saída

É porque o que te cerca é consumismo

& se tu hierarquizaste todo o teu ser
& se tu compras até mesmo teus valores
& se te tornastes fragmentos irreconciliáveis
& se o suor escravo é tão perfume quanto as flores

É porque estais na nossa bela modernidade

& se tua resistência sofre um processo fagocitário
& se tudo isto de algum passa a te perturbar
É porque meu tormento não é solitário
É porque sofres do mesmo mal-estar

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Simplesmente:

Angústia

“Esmaguei o pouco de amor que poderia sentir no mundo. Matei os poucos seres que me faziam viver, e por quê? Pelo meu descuido. Pelo meu máximo descuido” – Pensou ela consigo.
Caminhava pelas ruas iluminadas por postes e por alguns letreiros luminosos enquanto pensava sobre o assunto. Decidiu-se por caminhar de volta para casa para poder remoer os acontecimentos daquela noite. Aquela, com certeza, não era uma noite qualquer, aquela estava sendo a pior noite de sua vida.
Costumava dizer aos quatro ventos que não mais sentia culpa, que havia sobrepujado tal herança, mas aquela dor, aquela dor em seu peito que assolava sua alma era no mínimo o resquício da culpa em sua mente, em sua alma. Talvez fosse culpa de seu irmão. Talvez fosse culpa sua por satisfazer os desejos fúteis do seu irmão. Claro que eram fúteis para ela. Talvez para ele fosse uma enorme futilidade a mania dela de colecionar livros, “para que tê-los, para que todos aqueles volumes de História da Sexualidade, as pilhas de Nietzsche, as compilações de textos de Machado, Heidegger, Sartre e outros tantos exemplares de tantos outros nomes? Para que tudo aquilo se para lê-los podia tomá-los emprestados de qualquer biblioteca da cidade?” – Assim dizia consigo mesma – “Para ele isto é que era fútil!”. Tudo isto ela penso. Tudo isto ela repenso. Sobre tudo isto ela refletiu. Isto batia pesado contra seu peito. O que a obrigou a parar várias vezes durante o percurso. Parar para respirar. Tomar fôlego para continuar.
De início tentou formas de esquecer aquilo, apagar ao menos momentaneamente aquilo de sua mente. Buscou formas de anestesiar a dor. Assim tendo decidido puxou seu livro amarelo para ler, mas as palavras se tornavam ininteligíveis ante a presença dos acontecimentos, em sua mente eles se chocavam com as frases do livro fazendo-as dissiparem-se no ar. Ao fim desistiu de tal intento. Passado um tempo tentando esvair aqueles pensamentos pôs os fones em seus ouvidos ligou o Mp4, mas a música era inaudível na presença dos pensamentos. Ela elevou o som ao volume máximo do aparelho, o que normalmente faria explodir a música em sua cabeça. Porém, não hoje. Hoje o som do erro lhe impedia de por sua atenção por muito tempo em qualquer outra coisa que fosse. Tanto era que, certo momento, nem se percebeu atravessando uma rua movimentada. Só notou-se em tal situação, pois o motorista do carro freio bruscamente e encheu a mão ao apertar a buzina, assim o som da freada brusca somado ao da buzina lhe despertaram.
Todo aquele erro! Por que tinha de errar justo com seu melhor amigo? “De tantos seres no mundo de quem eu nem sequer ligo para a existência eu tinha de ferir justo um coração de um ser amado?” – Pensou, depois continuo lamentando – “Ah, isso a doe, doe muito. Só eu sei quanto doem as pancadas da consciência”. Sem desanimar completamente seguiu. Alguns quilômetros uma pausa, mais alguns quilômetros e mais alguns minutos de serenidade ao corpo. Ao corpo, no entanto, não à mente.
Em uma das pausas propôs a si pensar em uma solução para aquilo, uma vez que não adiantava ficar se martirizando com o que já havia sido feito, não havia mais como voltar, não havia por que pensar em se tivesse tido mais tempo, se tivesse usado as palavras certas, se tivesse lembrado, se não tivesse esquecido, tudo aquilo não mais fazia sentido, importava uma solução, como concertar todo aquele tremendo engano. Não lhe foi fácil fazê-lo uma vez que cada detalhe deveria ser mensurado, já havia errado feio, não podia por tudo a perder tentando concertar o erro.
Talvez a amizade pudesse perdoar tudo sem grandes problemas. Talvez nem fosse necessário tanto pensar. Tanto repensar. Tanto refletir. Ou nem fosse necessário se desculpar, basta deixar as coisas rolarem. Não, ela já errara outras vezes, todavia aquela havia sido uma falta assombrosa, só confiar na amizade não bastaria. Talvez nem um simples pedido de desculpa fosse o suficiente. Talvez devesse dar seu sangue como forma de penitência. Não! O que estava falando? Ele jamais aceitaria como seu amigo algo assim. Ela sentia-se tola por chegar àquele ponto. Tola não, louca. “Oh, céus! O que fui fazer! Por que fui me esquecer? Por quê? Por quê?” – Murmurava ali sentada. Levantou-se e pôs-se a caminhar novamente enquanto as perguntas ricocheteavam em sua mente e feriam seu ego. Por que fora fazer promessas outras vez? Já havia se prometido não fazer mais isto, mas ignorou-se e fez. Aí estava o resultado: um erro que gerou outro e este segundo não era um simples erro era uma enorme – cagada! Como doía em sua consciência aquilo. Repetiu para si as frases do desenho que gostava tanto “Oh dia! Oh, céu! Oh, azar!”. “Oh, azar!?” – Riu de si mesma por pensar em azar. Aquilo não era azar, não daquela vez. Daquela vez era tudo sua responsabilidade. Das outras vezes poderia ter sido azar, mesmo que não gostasse muito de crer em azar, mas das outras vezes até poderia ter sido. Aquela não. Aquela vez o erro foi todo seu. “Um erro suficiente para acabar com uma amizade?” – Ponderou que não.
A certa altura do caminho já arrastava seus chinelos – era o cansaço. Agora, se o cansaço era de tanto andar, de tanto pensar ou era o peso do seu erro isto ela não sabia. Ela só arrastava seu corpo mais e mais. “Alguns minutos e já estaria em casa” – Falou para animar-se. Queria alcançar a casa para deitar-se em sua cama e descansar, sabia que não dormiria tão facilmente, mas ao menos chegando teria um pouco d’água para refrescá-la naquele dia tão quente e pesado. Para refrescá-la daquele erro tão duro.
“Ah, amargo arrependimento! Por quê? Por que bates a minha porta? Seria tão mais fácil se esquecer de tudo. Seria tão melhor não ter esquecido! Aí não teria errado. Aí estaria tudo pronto para se ser feliz. E para se repousar serenamente cada um em sua cama” – Ponderou, no entanto agora não mais pensava para si ou cochichava, já fala em voz alta. Quiçá, quem passava na rua e a via achava-a lunática, louca, desvairada, doida de pedra. De pedra. Quem dera ter uma pedra bem alta, um desfiladeiro gigante para poder atirar-se de lá! Um mergulho ao esquecimento. Um lançar-se ao nada final. Mas não, a consciência da dor que causara ao peito amigo, a mesma que lhe impediria de dormir, não a permitia completar tal ato. Precisava fazer algo para ao menos remediar o que fizera. O que faria então? Nada lhe vinha como resposta. Tudo parecia confuso e difícil.
Ela percebeu-se realmente aturdida quando sequer consegui lembrar que dia era aquele. Sabia que aquele seria para sempre o dia em que cometeu o que poderia ser o maior erro de sua vida. Toda aquela angústia pulsava em sua alma, em cada rincão de sua consciência lá estava atormentando-a.
Ao chegar a casa, tomou o gole d’água tão esperado. Pôs seu colchão para fora de casa, buscou papel e lápis, sentou-se no colchão e rapidamente começou a escrever o que sentia.
Tentou desabafar tudo o que comprimia seu peito. Após quase três páginas de rabisco parou, puxou o ar profundamente quase que estourando os pulmões, expirou todo o ar num grito retumbante. O que se seguiu foi o mais sincero e escuso choro por perdão.


Era uma vez...

Um homem que quis ler

Um belo dia.
Assim começam-se as histórias, não?
As histórias de finais felizes e sorrisos escrachados.
Mas, assim, não é essa história.
Sem heróis, sem glórias.
Talvez esse fosse um belo dia, quem sabe?
O homem que recém acabara de tomar café, em seu fim de semana que recém iniciara-se, assim esperou.
Abriu seu livro de contos para ler algumas páginas de contos sobre fome e artistas, também, sobre colônias penais e outros assuntos – esplêndidos?
Era contente que ele lia seu livro, ao menos tentou fazê-lo, mas, talvez, por sua idade, a concentração já estava afetada.
Cada palavra lida era quebrada impedindo formar-se uma frase coesa.
Quebrada por um ruído vindo da sala ao lado.
Levantou-se calmamente, foi até lá, observou seu filho assistindo TV um desenho educativo do tipo que ensina a ser naturalmente violento, do tipo que produz gozo intrínseco do homem pela dor alheia.
Os estampido e estalos eram constantes e impossíveis de serem ignorados.
Mudou-se, homem e seu livro, para o seu quarto.
Deitou-se na cama estendeu as pernas, espreguiçou-se – a cama o chamava!
Abriu o livro, começou a correr os olhos.
Até que uma voz estridente adentrou-lhe os ouvidos atravessando- lhos, como uma agulha o faz no tecido.
Não só os ouvidos foram cortados pela voz, mas a leitura também.
Nem mesmo trazendo o livro muito próximo de si e fitando-o firmemente – nada de frases inteligíveis!
Outra vez moveu-se ao quarto da filha, mas logo ao abrir a porta lá estava ela com a TV ligada num show, ultra-produzido, com luzes, telões e sons – muitos sons, diga-se de passagem!
Sons ensurdecedores, que o fizeram recuar.
Uma cantora, com uma voz – aquela voz!
Agudos desafinadamente intangíveis, batidas sonoras pareciam estar dentro de sua mente, a cada batida da percussão pareciam serem seus tímpanos atingidos pelas baquetas.
Fechou a porta, assustado, tremendo.
Pensou.
“E agora José?”
Foi até o banheiro.
Lá sim, dois prazeres de uma só vez.
Longe dos ruídos, estrondos, baques e atabaques por aí.
Arriou as calças, sentou-se e – a TV da sala parecia ter sido posta dentro do banheiro, ou então era uma maldição – só poderia ser!
Perseguição!
O Deus que ele nem sabia por que cria lhe odeia, devia ser!
Moveu-se para o único lugar seguro na face da Terra agora – O jardim.
Abriu a cadeira de praia de alumínio – Muito leve e nem enferruja, como na propaganda dizia!
Sentou-se, abriu o livro outra vez mais e como um enxame o som das Televisões das casas circunvizinhas somaram-se e invadiram-lhe a cabeça, a vibração correu-lhe peito abaixo até a ponta dos pés – sentiu cócegas em seu dedinho.
Aquilo não era mais o Jardim secreto!
Não mais restava saída – o que fazer?
“E agora José, e agora você?
Por que a luz não acabou, por quê?
Por que esse povo não se foi?”
O quão duro seria esse homem?
Protestaria?
Dançaria valsa ou gemeria?
Nada disso foi-lhe realmente uma opção.
Sentou-se na grama, pensou o que os zumbidos deixaram-lhe pensar.
Levantou-se e foi até o bar.
Beber uma cerveja?
Comprar um cigarro?
Jogar conversa fora?
Contar piada ou tirar sarro?
Perguntar-se-ia você.
Não.
Não!
Sentou-se numa das mesas, junto dos amigos.
Sentou-se para assistir futebol – na TV.


quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Reflexão...

Àquelas pessoas

Sentou-se no fim do píer, contemplando o pôr-do-sol.
Ocaso do astro rei – não ao acaso.
Ele firmava os olhos no horizonte.
Aquilo era o plano perfeito para pôr-se também.
Agora, meditabundo, pensava sobre aquelas pessoas.
“Sabe aquelas pessoas, ou aquela pessoa que lhe parece ser totalmente o avesso de si, parece-lhe de uma diferença incompatível, como a razão e a tragédia. Porém, cada vez que a fala dela dirige-se a si assalta-lhe uma falta de ar de tão rápida excitação que inunda a alma?
Aquelas pessoas que entram em sua vida.
Marcam-lhe o coração. Num instante elas estão lá, silenciosas, como se você não existissem. Uma amizade você pensa. E então, ela lhe chama!
Você – no fundinho de si –, agora, clama. Saltitam-se os ânimos.
Tudo tem cor mais viva. Mesmo que por um ínfimo minuto que seja a conversa. Você aposta em algo mais. É por isso que clama. O Algo-mais. O algo mais que ela desperta. Que ela provoca. Incontrolável.
O que você queria. Um bis. Só o doce sabor do bis nos lábios. Nada mais.
Abruptamente o silêncio. O vazio que prossegue é mortal.
Voraz.
Veloz.
Canibal.
Antropofagia dos sentimentos. Um baque no peito. E tudo volta a ser mais volátil que vapor. Mais incorpóreo que Éter. Um sonho. Desfaz-se para si.
Para elas? Não sei o que se passa.
Para si? A dor que não passa.
Àquelas pessoas que escrevo. Àquelas pessoas que descrevo. Que despejo, de leve, essas palavras. E aquelas pessoas, talvez – e infelizmente assim creio – pra sempre ver-me-ão como um amigo, ou menos, um conhecido.”
Nisso ele pensava, suspirando suavemente disse para os últimos raios de Sol que se escondiam no mar agora. “Para mim, esses seres ‘incompatíveis’ – não todos, mas uns dois ou três – ser-me-ão amores.”
Deitou-se nas tábuas úmidas.
Deixou as últimas palavras flutuarem pelo ar como sementes de esperança. De amor-dos-homens.
“Ser-me-ão amores
Atores.
Autores.
Para sempre em mim.
Amores.”
Continuou por ali, deitado sentiu sua mente ser carregada pela brisa tênue como tais sementes de dente-de-leão.

Adormeceu ao som das ondas.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Micro-poesia sobre macro-sensações

Grosso modo



Medro, mas não tanto.
Temo, mas não canto.
Corro, mas não levanto.
Choro, mas sem pranto.