quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Nem todo haicai é sobre uma bela paisagem

Profecia

Cão com dono
e esfomeado,
prediz a ruína do Estado

quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Vitalismo poético, parte 3

Da morte (2)

A morte,
talvez o ser mais ambíguo da
existência;
coisa mais estranha que 
há;
dá contorno e sentido
à vida
concede-lhe propósito,
oferta um formato,
fornece-lhe lugar.

a morte torna a vida entidade,
milagre existencial.
a morte faz a vida viver,
fá-la existir.

mas é também a morte
– aparente antimilagre –
que nos devolve ao todo,
ao nada.

A morte libera o corpo de sua prisão
– a alma –
e devolve a matéria à
comunhão
do indiferenciável,
do indefinível,
do universo.

terça-feira, 31 de outubro de 2023

Vitalismo poético, parte 2

 Da morte (1)

A morte,
    há quem o diga,
    é o fim dos milagres
    é santa, portanto.

É, no entanto,
    o fim que dá contorno.

O contorno não é só o limite,
    que cinge, encerra,
    que detém o que erra 
    que agarra e laça
    e prende o que passa.

O contorno define e,
    ao definir,
    faz ser
    e vida sem fim não é, 
    nada é.

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Vitalismo poético, parte 1

Da vida 

A vida é um milagre.
    a flor que desabrocha;
    a semente que brota;
    o verde limo sobre a rocha;
    o verme que se retorce n’água suja da grota;

A vida é um milagre.
    a mão que costura,
    que corta, perfura,
    que colhe a fruta já madura
    que acaricia e segura
    em seu colo o rebento,
    cujo choro se perde
    entre o sem fim de estrelas de um universo poeirento.

A vida, pois, é um milagre, 
    mas não um milagre de deus.
A vida é um milagre – ateu!

sábado, 1 de abril de 2023

Nem todo haicai é sobre uma bela paisagem

VII

Vassalagem neoliberal:
empregado de meu empregado
não é problema meu.