quinta-feira, 19 de novembro de 2009

No desespero do vigor que me resta

Uma carta de des-apego

Sinto muito,
não prometo suprir suas expectativas,
nem o espero, nem o quero, sem esmero, nem desespero
Do zero ao um, do um ao zero – céu e inferno
Não quero uma carta de alforria, nem uma caixa em que me en-caixe
nem quero ser peça que sirva no encaixe

Anseio no seio d’alma ser leve-livre-louco,
no estar uma fantasia
Não pré-tendo lhe agradar, nem lhe agarrar, nem amar, nem... Nada
Não prometo ser eterno,
com-prometo-me comigo mesmo a ser etéreo,
não sendo estéreo, nem sério, nem... Nada

Qual a graça na des-graça do mundo das pro-messas
que atira jardas e dardos ao vazio da incerteza,
que mata o impulso primaveril reluzente n’alma,
que abate as possibilidades do vir-a-ser com uma armação de rigidez assassina,
faz do transcedetal-imortal sua sina
faz da identidade tal
que o espírito fugaz, sub-existe, como i-moral






Ao final,
Nominal.












[7]

domingo, 8 de novembro de 2009

Em cada poro do mundo-aí se impregna...

O aroma intenso do Eu

As linhas não podem suprir o desejo,
sua imensidão é seu maior pejo
Talvez pílulas possam satisfazer
o desejo interno do discurso de ser

As luzes nos postes já esmorecidas,
pálidas como damas românticas,
ocultam-no em algures, lá, velado,
como um tesouro cravado no solo

As dúvidas que me movem agora
são como gotas que marcam a hora
Talvez mais um gole não me derrube
ou mergulhe-me num sonho – Não perturbe!

Talvez se eu acender velas e orar
Quem sabe em um livro sobre como amar
O que é essa dor eu não sei dizer
Estou aqui há tanto tempo quanto você

Tudo é tão igual que o asco e temor me consomem
Tudo é tão meu que pronomes insistentes se repetem,
mesmo os léxicos, perplexos, deixam-se tremer aí
Os padrões exigem de si cada vez mais o seu falir

Olhando para os lados parece não haver saída
Aqui, nessa rua sem luzes a voz ansiosa é perdida
Entre as esquinas figuradas pelo tempo voraz
passado desenha-se, marcando-as, mantém-se tenaz

E nos últimos suspiros de cada instante talvez haja desistência, talvez não,
talvez haja só amores e incertezas, mas o que mais se precisa para viver, para mover, para – atomicamente – ser!?

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Explo-sição;


O Lamento do Elemento Vazio


Minha vida fede
meu humor pede
mas o tempo, o tempo não cede

Em meio à sebe
não há quem saiba
não há que responda
não há, não há, não, não há
não pode haver
algo que apraza o meu ser
meu ser em brasa

Minha vida fede
minha alma tem sede
mas estou enleado, enleado em rede

Em meio à sebe
meu ânimo foge
meu ânimo em fogo
queima, arde, consome-se e consome-se
até reconhecer
nas fuligens do meu ser
o vazio das origens

O ente que se desperta,
não quer mais voltar a ser
não quer mais voltar-se ao ser
ele aconselha que se esqueça

O ente que se esquece
quer fugir da angústia que é
quer fugir da angústia ao não que é
assim percuti a prece

Assim segue-se o lamento
segue-se o desencanto
aos prantos

Assim perpetua-se o desatino
perpetuas-se o fino
som do sino

Em sentenças eu temo
eu falho, eu sou

Em símbolos eu morro
eu corro, me vou

Aos choros em coro o fim.

O gosto do nada em mim.