quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Qui pourrait croire qu'...


Un vent me souffla

Voilà, un bel jour un vent me souffla.
À moi, qui pensa sur l’universe. À moi,
Qui médita sur la morale et le devoir,
Et réfléchit sur les absconses origines. À moi,
Qui n'est plus rien qu'un peu dans ce Monde, cela
Me força à une pensée qui me noya dans un émoi
Qui émietta – toutes les certitudes, le Je et le Moi!

Et que faire, maintenant, vis-à-vis
De cette fine poussière que la bise
Lança stoïquement sur ma figure
Pensive, rêveuse? Fût-il un augure,
Ou bien, le Chaos plaisantin qui, jadis,
Rit dans ma barbe? Et moi donc, je taris,
Me voyant sans aucun éclaircissement
À tout ce que la vie, naïvement, m'imposa;
Chaque solution qui à moi s'annonça
Ne fit qu’appauvrir mon raisonnement;
Car la Vérité, conseiller incompétent
Pas même effleurant le fond du cœur
Parle à moi d'une voix sans vigueur,
Par des mots fanés et chancelants!

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Correios de Nietzsche... (2)

Carta a um grande inimigo

Uma imagem, atravessando-me a retina, grava-se na lembrança: é janeiro e o ventilador está desligado. Sob teu casaco aí, do outro lado do Atlântico, onde a neve se acumula no beiral da janela, pode não te parecer algo digno de uma carta, mas aqui neste úmido vale tropical este quadro soa mais do que estranho.


Um velho amigo um dia disse-me que por aqui não há algo como "quatro estações", mas sim, São Pedro e sua bipolaridade. Engraçado, porque agora me parece que o tal santo simplesmente enlouqueceu de vez, ou perdeu de vez sua memória e cobriu esta pequena cidade com um clima meio torto para esta época do ano. Não que eu me entristeça com isto, pois é muito bom poder respirar sem que o ar cozinhe-me os pulmões, ou caminhar pelas ruas do centro da cidade sem que a pele asse como um doce em banho-maria.

Acredito que tua curiosidade adoraria encontrar-se como essa informação, mesmo que não troquemos mais muitas palavras e que o teu silêncio inunde meu peito e preencha a distância entre nós. Pois sei que se vierdes a ler estas linhas, seja lá teu estado espírito ou condições de tua saúde, algo de regozijoso borbulhar-te-á no corpo e marcar-te-á no rosto uma leve parábola ascendente do centro aos cantos dos lábios, um "Grinsen", como tu adoravas explicar-me, quando fazias diferenciar dez tipos de expressões faciais que eu ingenuamente reduzia ao verbete "sorriso".

Bem, com estas frases, mais ou menos vazias, eu não quero sobrepor qualquer coisa que seja, ou mesmo conjurar a ponte que, agora taciturna, liga-nos. Apenas aceno deste lado da cerca; um aceno amoral e amoroso, de saudade talvez, mas alegre pelo passado-em-mim e pelo que se é no que há: o agora.


Abraços,

Augusto




terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Impróprio

Encontro

Deito-me e encontro,
de pronto,
o teu aroma no meu lençol
e as minhas lembranças
nas reentrâncias
da tua pele, de escol,
que meu lábio conduziu
ao arrepio
sob o manto do arrebol.

A terra...

Contra o sétimo céu

Eu sei
eu sou
a sombra
a sobra
o demônio de minha tormenta.
Eu sei
eu sou
a sobra
a obra
da paixão que não sustenta
senão meu prazer: ser anjo
da miséria da união cinzenta,
aquele mais horrendo planjo:
o ordinário amor
ao nada, a tudo, à dor.
Eu sei
eu sou
a sombra
a umbra
quem recobre minha própria pele
que atrai e repele
que solta e agarra
que beija e escarra
que bate e corre
que trama, transa e morre.
Em transe
eu sei
eu sou
eu soo
eu suo
a terra.