quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A sintaxe da:

Sociedade de individualidades

No “nós”, no “eles”, no “vós”
há sempre ecoando a voz
de um “eu”, um "tu", um “ela”
emm constante querela
que quer ela,
que me quer,
que quer a vós,
que quer a voz

Em uma guerra diária
de consumo e inclusão de área,
de espaço e mercado,
de laissez-faire e cercado,
que quer ser cada,
que quer ser tudo,
que quer cada pedaço,
que quer o frasco

Mudo,
sem voz,
O mundo
sem vós
seria outra coisa
Séria outra coisa
Que não coisa em seriem
Nem em si
 Um sim
Um fim

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Na tela-vida:

Rabisco em crayon

O barulho da chuva do lado de fora era a trilha sonora desta história, uma história dentre outras tantas, que talvez não lhe faça sentido e que talvez nem mereça sua atenção, mas que mesmo assim é uma história.

Enquanto um mundo todo corria lá fora e um bilhão de coisas passava pela cabeça daquele jovem rapaz, o suor multiplicava-se no seu corpo com a passagem dos segundos e o ritmo que acelerava até alcançar o clímax, o jorro, o orgasmo. Fechou os olhos para perceber-se. Após o despejo do gozo restou ali, não apenas um corpo vazio, mas, uma alma cava, oca onde ressoavam lamentos de um existir incompleto, impróprio e inumano, um existir restrito, vão e suicida.

Então, ele sentou-se e sentiu-se num mar de um nada nadificante, percebeu-se prostrado diante de uma nulidade gratuita da potência do ser, achou-se perdido, o sentido de tudo até ali havia definitivamente se furtado. Tentou, depois, aconchegar a cabeça no travesseiro branco, pressionou-a contra a espuma velha, afundando a cabeça até quase sentir o colchão, porém, o aconchego nem sequer aproximou-se naquele momento, estava desaparecido na imensidão vazia que seu corpo comportava, agora. Uma profundeza escura, estéril, histérica, estreita, estonteantemente estática, estridente, estrondosa, extrema, extrínseca ao ser e extrusiva da vida.

Na tentativa de preencher o vácuo no peito não conseguiu nada senão aumentá-lo, expandi-lo a um tamanho insustentável à leveza do ser. Criou um buraco negro insubsistente à massa da vida, dragando-a à negação da existência, em propriedade do ser. Ao abrir os olhos outra vez percebeu um corpo glacial, sentiu-se num coito com um cadáver, sentiu-se como um necrófilo do romantismo à meia noite em um cemitério e este cemitério era ele mesmo, ele já era um cadáver, ele era frio e morto. Passou a mão pela cama tentando sentir calor, mas tudo o que havia ali eram objetos sem vida, sem amor, sem paixão, imóveis.

Levantou-se e olhou ao redor, tudo o que podia ver eram objetos sem vida, sem amor e sem paixão.

Vestiu-se e saiu do quarto indo em direção à cozinha, deu um giro formando um panorama do aposento. Andou até um dos armários, abriu a gaveta tirando de dentro dela uma faca de cabo preto e lâmina de aço inoxidável, passou o dedo indicador lentamente pelas faces da lâmina, primeiramente na parte superior, depois voltando pela inferior, repetindo o movimento algumas vezes; em seguida encostou a lâmina na parte interior da mão, pressionando o gume contra a palma e, deslizando-o para baixo, pode sentir-se outra vez, pode sentir o metal frio entrar na carne fazendo um risco de sangue na mão. Algumas gotas de sangue caíram no chão, outras ficaram na faca. Olhando fixamente para seu reflexo na lâmina da faca, levou-a a boca, limpando o rastro de sangue sobre a faixa de metal. Passou-a outra vez sobre a língua, mas agora com mais força, queria sentir o aço cortar-lhe e o fio de sangue cruzar-lhe a língua. Engoliu o sangue em sua boca, tentou sentir-se vivo outra vez, mas já era tarde, seu sangue já era frio. Já não havia mais vida naquele corpo, os ossos rangiam e gemiam e clamavam por um fim, a vida estava se exaurindo de cada rincão de seu corpo. Cada órgão, cada tecido, cada célula de seu organismo estava desfalecendo em desânimo.

Entrou no banheiro ajoelhando-se diante da privada, o altar de sua existência medíocre, aspirou, aspirou o cheiro podre que vinha dela, aspirou por algo mais, no entanto a podridão que saía dali era um belo perfume perto da putrefata alma daquele humano, daquele sac à fiens largado na frente da patente. Vomitou violentamente tudo o que havia dentro de seu estômago, uma golfada de suco gástrico, que passou queimando-lhe a garganta, rasgando-lhe a traquéia, porém aquilo não era muito, ali ficou o pouco peso que ainda oscilava dentro de seu corpo. Levantou-se cambaleante, moveu-se calmamente para fora do banheiro, depois atravessando o corredor até alcançar a porta principal. Estaqueou aí, puxou ar arranjando fôlego para ir além.

Saiu da tranqüilidade triste de sua casa, ao abrir a porta, inalou profundamente o gás carbônico do mundo ali. Moveu-se para fora procurando a expectoração última do viver, pondo-se diante do abismo gélido que a cidade é. Sentiu o denso sopro da morte roçar-lhe suavemente a face, enquanto a seda mórbida da noite cobria seus olhos.

Ao longe, uma luz amarela cortou o véu e perfurou-lhe a vista. Sem tentar desviar o olhar, moveu-se alguns passo a frente na direção da luz, para o meio da estrada, em busca do fim.

Um carro vermelho, modelo novo, com freios em perfeito estado de funcionamento, a uma velocidade não muito acima do que a placa, no alto do poste, permitia, golpeou o corpo já internamente moribundo, encerrando a ânsia daquele jovem rapaz, naquela triste madrugada de segunda-feira.


sábado, 5 de fevereiro de 2011

Num dia qualquer:

Um relato confuso do meu fim.

O céu azul,
As brancas nuvens de algodão,
Os pássaros gorjeadores de cores mil
O solo fértil por onde corre o límpido rio
O vento vivido faz vocalização
Nas copas das árvores – Ah, vento sul

Para além da pintura idílica pregada na parede vejo um céu cinza,
Vejo nuvens cinzas,
Vejo pássaros sem asas que não sabem mais cantar,
O vento entoa o som das fábricas, no ritmo frenético do consumo – Ah, o vento do capital

Ao meu redor? Vejo o mundo!
& tudo está conforme
& isto é que o deixa mais podre
& é isto que me faz mais eu

Eu me sinto numa cadeia,
Eu me sento numa cadeira,
Admiro a taça a minha frente,
Olho o líquido em seu interior borbulhar.

Eu vislumbro suas possibilidades & imagino-o em mim,
Experimento sua potência fluir em minhas veias
Eu o bebo,
Eu o sinto descer minha garganta, queimar meu peito & cortar minha alma.

Mas isto não basta!

Tenho-me vazio & repetitivo
Tenho-me frio, mórbido, depressivo & suicida
Em desejo decisivo opto por não decidir
Em deixar de viver & deixar-se morrer
No momento mais fortuito & soturno
No noturno breu do meu eu
Na mais infame das rimas que formam meus complexos
Que em um amplexo sufocam o ar, que não entra nem mais sai
O fim de mim mesmo, por mim mesmo

As pílulas espalhadas sobre a mesa não me tiram desta prisão – elas me prendem mais & mais!
A faca já não corta a hipocrisia do meu corpo – ela está cega!
A corda já não sustenta o peso em minhas costas – ela parte-se!
A bala já não tem mais escrúpulos a perfurar – um risco no ar!
& tudo em mim não é mais que um efeito, passivo, consciente, fraco, depressivo & suicida
Que não sabe fugir, que não consegue fingir, que não pode mais que cingir & pungir a si mesmo em um fim qualquer, em qualquer lugar, sem motivo algum & em momento comum, aqui, agora, na hora, ou outrora – na aurora, no crepúsculo, no opúsculo, sem músculos, sem ossos, somente destroços & restos de medos, angústias & impropriedades.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Fluxo:

Fuga(z)

Aqui, neste mundo onde se, ainda hoje, pode pisar, onde ainda há ar para se respirar, onde ainda há o que comer & o que beber.

Aqui, neste mundo imundo humanamente desumano, onde ainda se pode poder, onde se podem ver frestas, onde ainda pode se fazer festa, onda ainda se permite tentar, onde, raramente & a muito custo, ainda se pode – amar

Neste mundo, real, ele existiu – o mito.

O mito que se voltou a si, beijando o infinito, cuspindo em si, em sol & lá.

& enquanto todos fechavam os olhos ele abriu, abriu para seu último suspiro

Um suspiro vigoroso, forte, intenso, vivaz & pulsante.

Suspiro que, em sua ânsia de ser livre, esvaziou aquele peito aberto, marcado por chagas.

Chagas vivas & vermelhas, chagas de quem abre o peito ao mundo & escarra palavras em parrésia à amnésia cultural.

Suspiro que esvaziou o peito, carregando consigo a alma – a vida.

Uma vida intensa & sem medidas.

Em sua realidade descabida um ponto qualquer no que quer que seja o tempo. Mas, junto, deixou uma gigante cratera no coração da humanidade.

Humanidade?!

Bem, nos humanos demasiado humanos, nos humanos deificados por si mesmos &, assim como os outros deuses, por eles também assassinados.

& bem nestes humanos, é que a mácula de imperfeição, o tiro final & fatal abriu um rombo em sua etérea-natureza.

Assim, morreu um indomável, inamável, insaciável ente – doente social.

Um anárquico pulsar histórico em rota de colisão consigo, em linha de fuga – em fuga de sua identidade, em busca de outro – outro eu.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Contra o império devastador do cimento, da ciência e do medo:

A misantropa

Ela estaqueou no meio da praça, mesmo parada sentia o mundo girar. Girava num ritmo que levou alguns minutos para que se sentisse tonta e, então, tentasse voltar a si. Ao fazê-lo olhou as pessoas ao redor, parecia que para elas tudo se mantinha em perfeita ordem.

Sentou num banco, demorou-se ali algum tempo contemplando as flores do canteiro ao seu lado, passara algum tempo até que se saturasse delas. Mirou o céu, mas não o tinha em mente, seu olhar era de um vazio assustador, um nada angustiante. Passou a refletir sobre si, começou a pensar sobre o que vinha sentindo nos últimos dias, uma sensação plúmbea no peito, que afetava sua respiração, que dopava lhe o olhar, que inebriava sua alma e por fim causava-lhe tremenda insatisfação – pulsava-lhe um desejo suicida nas veias.

Todo este coquetel de emoções havia se agravado nas últimas horas culminando neste passeio pelo parque, num caminhar aéreo e vago, quase que desnorteado.

Assim falava a si “Sinto falta. Falta de mim, falta de atos, de Ethos, de Eros. Falta de erros. Erros que me façam pensar, erros que me façam repensar”.

Poder-se-ia enumerar mil acontecimentos naquela praça, o cachorro atrás da criança, a criança atrás do pombo, o pombo atrás de comida que ciscava o chão, meneava a cabeça em sincronia com os passos, acelerava os passos em fuga da criança até precisar voar. Mas o que verdadeiramente voava era a mente, a mente da jovem vagava para tão longe, mas não para os céus ou para o espaço, voava longe na imensidão vazia de sua alma, no abismo aterrorizantemente inseguro que abrigava em seu peito – de onde vinha aquilo ela fazia nem a menor ideia.

Poder-se-ia enumerar infinitos detalhes, o chão de calçamento quadriculado, alternando entre um preto gasto e um branco sujo, os bancos puídos pelo uso e pelo tempo, todos aqueles brinquedos consideravelmente abandonados pelas crianças, que hoje mais preferiam um jogo virtual. Talvez fosse isto, toda sua vida lhe parecia tão desproposital quanto um jogo deste tipo, tudo lhe parecia, cada feito seu, cada sensação sua, cada toque na face, cada cor das flores, tudo lhe parecia artificial e de uma artificialidade humanamente mórbida.

Toda aquela meditação àqueles sentimentos incógnitos a fazia vasculhar por entre as lembranças o que a causava tal frustração, algum desejo irrealizado, algum sonhos perdido esmigalhado, algum trauma – naquele instante de introspecção assustava-a quão traumática fora sua vida, cada minuto, cada fragmento de memória, cada respiração, toda a sua vida parecia um imenso trauma, trauma a si, trauma às pessoas ao seu redor, trauma ao mundo. Ah, imundo mundo que fora contê-la, maldita prole que ela viera a ser… Ser? Naquela hora, meio-ser, quase-algo, era isso que ela sentia "ser" agora.

O tempo passou sem que ela pudesse, ou mesmo quisesse quantificá-lo. Sua visão fixa ainda ao além-aquém denunciava seu estado meditabundo, sua face inexpressiva escancarava sua depressão, tudo que em sue âmago pesava, vazava-lhe aos olhos. Ainda ali, na praça, estática, apática, sem visão estética ou conduta ética que firmasse seu ser, esta mulher de pouca idade havia, paradoxalmente, se firmado. Havia feito uma irrevogável escolha, havia tomado uma resolução, que a marcaria até o fim de sua existência, de sua tranquila, débil, enfadonha existência na normalidade.

Havia decidido que não iria matar-se, não ia entregar-se tão facilmente assim a mais um capricho de sua alma, sabia que poderia resistir a mais isto. Foi assim, resistindo a saciar o que talvez fosse sua mais sincera pulsão à felicidade, que ela morreu amargurada em uma cadeira, sentada com a boca escancarada esperando a morte chegar, com os remédios impedindo-a de mergulhar em seus devaneios, prendendo-a à racionalidade atroz que a cercava, mantendo-a longe de seu reino de fantasias, sã e salva da loucura que crescia em sua cabeça, dia após dia, reflexão após reflexão. Aliás, disto estava, também, ela salva, as vis reflexões não mais eram possíveis, uma vez que tudo isto havia culminado em uma incapacidade de concentrar-se em qualquer coisa que fosse por mais de segundos, em contraponto com o seu olhar que era fixo, outra vez ao nada.

Assim morreu a mulher condenada por misantropia. Misantropia ao mundo e a si mesma. Misantropia que a levara ao distúrbio mental da alucinação. Distúrbio que a levara ao disparate de frases como “O fim do Homem faz-se necessário!”, “Urge extinguir isto que hoje pensa reinar sobre a terra!”, “Ainda não é tarde para por em queda o império devastador do cimento, da ciência e do medo!”.


quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Um – híbrido – desabafo:

Sensações & perfumes

Numa noite silenciosa, onde o ar parece imperceptível, a música, epilética, embala as sensações. Numa atmosfera perfeita os pensamentos caminham em silêncio, um silêncio belo em harmonia com a noite

Ali, sentado, numa simples cadeira ele trouxe o braço até próximo do nariz.
Fechou os olhos & inalou, profundamente.
Farejou & rastreou por resquícios do perfume.
Desceu cheirando o braço em direção à mão.
Alcançou as pontas dos dedos.
Estavam lá! Os resquícios – do perfume!
O perfume profundo, intenso feito vida, abrasante feio amor, que queima sem ter medo & consome sem pudor.

Tamanha a sede pela fragrância, tamanho desejo de sanar a ânsia, fê-lo drenar cada grama do deleite até se apagar da pele & restar apenas em sua memória sua efêmera memória de centímetros de sentimentos & sentidos.

Em busca de novos toques que capturem moléculas que configurem a sanidade em outro corpo, que devolvam a si a calma, que devolvam a inteireza à alma.

Desejou-se, então, amoral & imoral.
Criminoso marginal louco & devorador.
Desejou toques múltiplos & orgasmos suaves.
Desejou beijos espasmódicos & sinestésicos,
Ensejou novas experiências, mas só em sua mente.
Em sua mente outra vez ensejou louco amor.
Amor bandido banal insano & criminal.
Amor livre leve loucamente novo, que relembrasse & proporcionasse sensações.
Causando aprazer além do toque, um prazer do perfume no ardume do viver experienciar & arriscar.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Um escrito:

Sobre a bolha de sabão que se é
ou
A insustentável leveza do ser
ou
Sobre a fragilidade do ser

Uma vez um amigo me disse que o viver é igual uma bolha de sabão. Uma bolhinha que se move anarquicamente com o vento, assim como o pulsão da vida nos move para lá e para cá, e não nos permite parar, assim como as forças que nos torcem e retorcem sem que possamos saber quem estas são. Bolha reluzindo à luz do sol, belamente, como se brilha à luz do viver, à luz das sensações. Mas sempre uma bolha – frágil.

Aquilo por ora me bastou, não houve profunda reflexão ou introspecção.

Todavia, hoje, numa bela tarde de domingo, sentindo o vento autunal, fresco, refestelando-se na minha face, apercebi-me meditabundo.

Próximo a mim uma criança alegremente corria de um lado a outro, fazendo bolhas e sorrindo, sorrindo e fazendo bolhas. Mas minha atenção não era para a criança, não mais, mesmo que suas gargalhadas cheias de infância vez ou outra cortassem meu pensamento, atraíssem-no para seu regozijo na simplicidade do ato.

Fora estes lapsos, o foco eram as bolhas. Mais especificamente duas. Em momentos distintos. Uma por vez analisada, refletida, drenada em sua pureza.

A primeira, num longo sopro, dançou para fora do anel. Fixei, então, meus olhos em seu balanço, ela subiu, girou e então, veio-me à mente ser a bolha.
Ser aquela bolhinha de sabão que parecia tão cheia de ventura, tão alegre de si.

Lá – sendo-a – pensei-me divagando, e no tempo das bolhas, descobri que, antes de estourar, deveria conhecer a verdade sobre mim mesma e o mundo ao meu redor. Cheio de orgulho por tal descoberta, eu, bolhinha, aos poucos me senti inflar, inflando, enchendo meu interior, aumentando a tensão na minha tênue superfície, fiz um ridículo “PLIM”!

Junto ao “PLIM” um acordar ante o nada, o vazio, a finitude, a esterilidade, a vanidade do existir. Um pavor, uma paura abateu-se sobre mim, levando a alegria mágica do momento de introspecção, da transmutação do ser. O cenário transformou-se em uma pintura cubista de tonalidades frias e linhas agudas, uma nadificação do ser ocorreu no meu peito, até meu coração percebeu-se tolo em ainda bater.

Em desolação meus olhos voltaram-se ao local onde a bolha tivera seu último suspiro de ser procurando algum alento. Ao mirar o local, outra bolha cruzou meu campo de visão. Uma bolha completamente nova, similar em estrutura, mas diferente em potência. Lancei-me para dentro dela, ou melhor, lancei minha mente outra vez num pôr-se-como bolhinha de sabão.

Lá, por motivos que não me são ignotos, pensei-me diferente da outra bolha.
Ali, bolinha, então, pairando ao lado da bolha que havia acabado de estourar, ouvindo o “PLIM”, não vi sentido algum em retardá-lo – o meu próprio fim. Renunciei-me a ser e auto-acionei-me, então o estouro, fazendo um segundo “PLIM”, percebi que este fora ainda mais – ridículo.

Esboço sobre:

Um transbordo cenestésico de felicidade

Teve a sensação de que deveria correr. Uma alegria intensa percorreu seu corpo e ele percebeu ela instalar-se em seu peito e tornar-se felicidade.

Em sua mente visualizou-a medrar-se até ser insustentável à passividade, não tinha forças para contê-la. Ela escorria-lhe às orelhas, vaza-lhe por entre os dedos, produzira em sua face o sorriso. Não um sorriso comum, mas sim um sorriso vivo, um sorriso que exalava paixão e prazer.

Em seus olhos reluzia tanto sentimento, era ofuscante tamanha a sensação.

Tudo ali em si, tão intenso que mal podia conter tinha de reter aquilo para que lhe dura-se a vida toda.

Para que lhe durasse mais alguns dias, minutos… Ou segundos que fossem.

Tentou caixas de vários tamanhos, frascos de várias formas. Buscou diversos recipientes para armazenar m pouco daquilo. Inútil. Totalmente inútil.

Por fim correu até o lago. Lá onde tudo havia iniciado. Olhou para lâmina sem fim de água que cortava, como uma obsidiana, perpendicularmente o horizonte. Viu o sol manchar a água do lago com um dourado ímpar, já mais vira tal coisa. O sol tocava até sua alma e misturava-se à púrpura felicidade no seu peito.

Admirando a paisagem, abaixou-se, encostou as pernas junto ao peito e passou os braços dando um amplexo pela frente das pernas, suspirou e, por fim, deixou-se ali. Permaneceu, assim, abraçado com sua felicidade. Sem nem sentir as horas passarem, sem nem perceber que morria um pouco mais a cada badalada do relógio, a cada sopro do vento. Mas o que havia em seu peito, o que ele podia sentir ali – Aquela emoção sublime – fê-lo esquecer de tudo mais.

Só quis ficar ali, parado, ele e sua felicidade.