sábado, 20 de fevereiro de 2010

Outros versos sobre...

Outra dor no peito?

Ah, a dor no meu peito que aperta o coração
e não me diz o que fazer

Ah, a dor no meu peito que agulha minha'lma
e sangra o meu ser

E tudo o que me resta é lutar contra a medusa
que reside ali

É tentar enfrentá-la com a potência que resta
no meu ser que sorri

[11]

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Num impulso aforme;

Soneto disforme do amor conforme

Arrancam-se as asas do amor, pondo-o numa sequência de códigos,
Derribando seu vigor e desmantelando seus potenciais pródigos,
Encaixotando-o em frases românticas ou em impulsos elétricos,
Anulando as múltiplas formas e reduzindo-o a modelos geométricos.

Assim como se reduz o caos na ordem das palavras em que se o define,
Produz-se o definhar do sentimento pela identidade, matando-o in fine,
Em casulos de aço frio trancafiam-no sem ter por onde, a si, nutrir,
Linhas de medidas garantem o status quo e fazem o multíplice do amor falir.

Valsas de compassos precisos,
Armações duras como abrigos,
Estufas do amor uniformizado de vermelho.

Ritos e mitos travestidos em belo,
Garantias de controle do alelo,
Amor perpetuado como reflexo de espelho.


[10]

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Em seus olhos lia-se:

O mundo (um incomensurável amontoado de inutilidades)

O estrépito
O decrépito
A guerra
O ruído do avião
A bomba que assobia pouco antes de abraçar o solo
Pouco antes do fragor
Pouco antes de produzir o cogumelo de ardor
Luminoso
Flamejante
Que queima o corpo
Que dilacera o semblante
Que trucida a alma
Mas o mundo é um amontoado de futilidades mesmo, de que importa?

O que não é útil não nos serve
E o que nos serve não apraz à alma
Agrada os corpos, quem sabe
Corpos modernos
De ternos
Ou mesmo de Jeans
Mas corpos modernos mesmo assim
Autômatos, sobras de humanos
Sombras de seres
Sem mais alma
Pois esta – foi trucidada pela bomba!

A bomba
Atômica?
Nuclear?
H?
I?
J, K, L, M?
Z?
Não.
Uma bomba de mediocridades
Apatias
Afasias
Sem nostalgias
O mundo é um enorme amontoado de quinquilharias
Um belo engodo à propriedade de si
Toda a exportação da potência
Cambiada por stress
Desgosto
Melancolia
E tudo isto que sinto no meu peito

Essa deve ser a origem da dor no meu peito
A ausência de amor
Amor real
Marginal
Rebelde
Rápido
Intenso
Pretenso
Sem pretender ser eterno
Apenas interno
Amor-paixão
Paixão de vida
Vida
Pulsão primaveril
Vida
Minha vida
Meu amor
Amor meu
Amor de mim
Ter a mim
Ao menos ter-me
Sem pretender ir mais longe do que posso olhar
Porém sem esperar morrer onde agora estou
Sem falecer como quem agora mal sei quem sou
Para, assim, poder me despedir
Da dor no meu peito ou deste céu azul

Goodbye blue Sky, goodbye
Soava a vitrola
Soava a vitória
Pedia-se esmola
Pedia-se por vida
Mas ela já havia fugido
Fugido de um mundo como este
Evadindo-se deste putrefato mundo
Juntamente com os deuses
Furtaram-se daqui, pois agora...
O mundo é um incomensurável amontoado de inutilidades.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Num muro dilapidado tintas luzem...

Um retrato olvidado e borrado que retrata

A velha figura do cavaleiro louco, errante,
que clama pelo fim do cavaleirismo-sem-coração;
Em uma nova estampa, sempre andante,
em que lhe escorregam urros mudos,
urros pelo fim de cavaleiros surdos
que montam o cavalo chamado: Razão

Vestem-se, tais cavaleiros combatidos,
com reluzente e fiel armadura de incomplacência,
com a qual podem erguem os títulos auferidos
de legitimidade, a chamada: Ciência.

Tremulas mãos que ousam erguer-se
contra o cavaleirismo da moderna modernidade,
que busca, a donzela, defender, esta tão – ingenuamente crida
e, com impar anediar, denominada – pura atende por nome: Verdade

Teima o hodierno cavaleiro, já tomado por insano,
em digladiar e apontar a superficialidade
da cavalaria do progresso humano
que se faz cega aos erros que lhe brotam
– seus limites que não lhe escapam,
busca e luta em vão negando e renegando-o –
sem percebem que a escapa o mais profundo
sem perceber a parcialidade

Pobre cavaleiro, excluído, desacreditado,
em seu caminhar perpétuo, vivaz
Sempre disposto ao olhar em volta, obstinado,
disposto a ser algo mais, a fugir da paz.
A fugir da segurança vil do escudo e da espada “nobre”
A ir de encontro ao fio de cobre
cortante da dúvida, sem medo, sem dívida
sem ávida crença, sem eterna lembrança

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

7 linhas sobre...

A dor no peito

A dor no peito não se encerra com o sono
O ferimento no peito não tem sequer dono
É mono.
Não é estéreo.
Não arde nos dois lados
Não morde os dois lábios
Doe apenas aqui e se finda apenas no cemitério



[9]

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Olhos concentrados focam...

O Ballet da Aranha ao som dos uivos de Zéfiro

Como que voando magicamente a aranha realiza seu ballet
Flutuando ao balanço da brisa, oscilando em sua dança
Sobe, gira e desce movimentando-se graciosamente
Ela sai da vista do observador como se encenasse,
para este, um papel de musa

Zéfiro maneja suas forças como um maestro, comanda a orquestra
e o aracnídeo firme na ponta da linha quase que imaginária
Como um trapezista, suspensa por um cabo de aço cor-de-nada
Faz piruetas e reboliços em busca de um ponto firme

E quem não o faz?
Quem nessa vida não se arrisca em busca do outro lado?
Quem não se deixa levar pelos ventos da tragédia?
– Soprai Dionísio, soprai! –
Tu não o fazes?
Por que vives então?
Preferes ser a formiga, servil, honrada, no frenesi do trabalho maçante e perene?
Por que tu o fazes?

Em troca de prazeres de mercadejo?
Em troca de sempre estar na platéia?

Prefiro eu morrer já, a isto!
Prefiro, eu, uma curta vida intensa como chama
que me faz sentir vivo a cada instante
Überzeit – vivendo além da moral
sendo vivido até o instante mais banal
do que esta “vida” estéril e de calceta
Prefiro a emoção colossal do ballet da aranha
em suas acrobacias pelos próprios desejos
Jamais – em sã consciência – carregarei a folha
que alimente o fungo que me consumirá pouco a pouco

Enquanto a mente divaga, a página se acaba
A dança chega ao fim... Mas não, isso não é o fim!
É o começo de um novo espetáculo
que se faz em cada traço!
Que se faz em cada novo bailar
Parece tecer o seu futuro – Se é que se tem um!
E a tecelã não descansa até que sua obra chegue ao fim
– Eu não descanso!
Ah, que bela obra! Ah, que bela dança!
Levanta-te e aplaude-a de pé! Palmas, palmas!
À minúscula beleza na imensidão do vazio interior
e a dançarina continua seu viver sem se importar com a platéia,
Sem ligar paras vaias e aplausos, para os clamores e desafetos.
Ela simplesmente o faz!