quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

eu vi...

uma flor

eu vi uma flor
eu vi uma
eu vi
eu
eu vi
eu vi uma
eu vi uma flor
eu vi uma
eu vi
eu
eu vi
eu vi uma
eu vi uma flor
eu vi uma
eu vi
eu vi, sim
eu vi uma flor desabrochar
eu vi, sim
vi o botão se abrir em uma linda flor
e então embriagar os pequenos animais ao redor com seu perfume
e então a vi fanescer
vi a primeira pétala cair
bailar com a brisa
e pousar
suave
no chão
e cada pétala que acompanhava a primeira
num séquito decadente
enchia-me de um sentimento de letícia
um sentimento de vida
da beleza que há até naquilo que se vai
e se foi
com a leveza
com a beleza
com a suavidade
de mil musas
gregas

não sei (senão) amar

je ne sais pas/que aimer

eu não sei amar
eu não sei senão amar
eu não sei amor
eu não sei senão ardor
e nesse imbróglio de dor
há quem parta
há quem fique
há quem se parta
há quem seja fingidor


a-

tormenta


dói.
dói como eu já não sabia doer.
e mais.
dói como eu jamais pensei que doeria.
dói como nunca antes.
dói.
me corrói.
me come, mastigando lentamente.
saliva de ansiedade e dentes de culpa.
apertam-me o peito, trituram minhas horas, rasgam minha atenção
e minha mente não pode senão viver a dor.
dói.
escrevo que dói.
mas isto ainda é pouco.
não é dor de parto.
mas algo se parte.
e a parte que sobre já não faz senão doer.
dói.
e escrevo na esperança de que as palavras carreguem consigo um pouco da dor
e tornem as horas suportáveis
e as lembranças menos plumbeas
e ardidas
e passem.
passem, apenas passem.
sei que com vocês não posso - lembranças.
sei que não as posso,
ainda que queira.
sei do que fiz
e principalmente do que não fiz.
lamento?
lamento muito.
e dói?
dói.
mas já não posso fazer senão esperar.
esperar que passe.
esperar que passes.
esperar que passemos (de ano).
dói.
e se não fosse tanto, eu suportaria em mais silêncio.
juro que seria mais silencioso.
e se escrevo é porque em mais silencioso não posso ficar.
e escrevo porque é no silêncio dessas palavras que consigo deitar minha tormenta
para que ela repouse por algumas horas,
ao menos algumas horas,
antes que venha me arrastar à dor.
que dói.
dói como eu já não sabia doer.
e mais...

terça-feira, 7 de novembro de 2017

pontos, saltos...

pontas soltas

Em des
            fazendo a trama do
                                           eu,
quantos nós
en
     contra
               rei?


terça-feira, 24 de outubro de 2017

Passionarinho #2

Saudade de passionarinho

Dura sina de quem tem
Saudade de passarinho.
Oh, sabiá, pousa nesta palmeira
E faz em meus cabelos teu ninho.
Oh, beija-flor, beija-me a flor
E dá-me teu carinho.


sábado, 14 de outubro de 2017

Mundaréu de Serventes

timeline

olho a timeline
a se replicar
o eugenioso fidalgo
a lutar contra seus monstros-moinhos
& suas calças perdidas.

olho na timeline
a se replicar
a jocosa figura
doxomaníaca contemporânea:
      Don Queixote (de la Mancha Moral)



a flor do sal

o sal da flor

sal
     da
         dis
              tân
                   cia.


entre, por favor

navegar

um mar entre
um amar entre
um almar entre
um clamar entre
um acalmar entre
um exclamar entre
nós


Moi,

En t'appelant


Je me rappele
Lentement
De tout cela :
De la nuit,
De l’embrasse,
De la vie,
De la vue,
Du voile,
De la chambre
De la chandelle,
De la nouvelle,
De la musique,
De la muse –
La muse devant moi,
Devant me yeux,
Devant mes mains.
La muse,
Je l’ai touché.
Je
Lentement
L’ai touché
Déplaçant des pieds jusques à la tête.
Je
Lentement
M’ai déplace
De l’âbime profond jusqu’au plus haut du ciel...
Je tremblais,
Je vibrais,
Je me réjouissais
Et, alors,
Je t’ai embrassé
Le plus fort,
Le plus chaleureux,
Le plus tendre,
Le plus beaux;
Et, alors,
Le ciel a devenu insuffisant,
Rien de rien,
Y j’avait
Besoin des mots qu’il n’exist encore,
Des mots que vole comme une phalène,
Des mots qu’il n’y avait pas :

sábado, 7 de outubro de 2017

chove

chovo

as lágrimas que chovem
lentamente
sobre minha pele
como escorressem pelo vidro,
elas não sabem ser uma coisa só.
elas são duma tristeza,
morna, confortável e cinza, da cor do céu;
elas são duma alegria,
sorridente, silente e mansa tom pastel.

[janela]

Dia cinza

Nem abri as janelas hoje.
Nem olhei por entre as cortinas.
Não sei qual a cor do céu,
Nem se sob ele sopram brisas finas.

Mas a saudade que ancora em mim
É praia deserta e longa, assim,
De manhã antecedida de ressaca
Em noite de lua cheia.
Escuto vento uivar e arrastar consigo
Pequenas alegrias e a areia
À beira-mar...
Ah o mar!
Esse mar em teu olhar que só tenho
Na memória e na companhia da distância.
E é essa distância que me sopra
Saudade nas praias da lembrança.
E com pujança
Agita meu ser,
Esconde meu céu,
Arrasta meu sol
Para longe de todo olhar.

Nem sei como está o dia lá fora,
Para além das janelas.
Não abri as janelas até agora,
Mas em minhas íris, nelas,
Janela a dentro – um dia cinza.




quarta-feira, 4 de outubro de 2017

πουλί,

Διόνυσος

divertido, rapaz,
é o caos e a tormenta
é a poesia e a verve violenta
que advém duma taça de vinho a mais


nossa de cada dia,

verve

verve? é essa tua capacidade
de fazer, do lugar mais indigesto,
mesa a um festim sápido e vertiginoso
com um simples e terno gesto


ukstyle

gotas na vidraça d'alma (2)

meio Adele,
meio Joy Division,
chovo — calmo e cinzento.



il pleut, il pleure...

gotas na vidraça d'alma (1)

chovo, calmo e cinzento.
embora seja um dia ensolarado,
sem lamento,
abraço meu fado
e chovo — calmo e cinzento.


terça-feira, 26 de setembro de 2017

Flor será

     ensejar.

Seja como flor,
                 Florescerá...


quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Das poesias roubadas com amor

[sem título]

O azul do céu
esconde o universo.
Teu sorriso,
o inverso.


quinta-feira, 14 de setembro de 2017

não fosse...

quase

é quase impossível
acreditar em certas memórias.                     
não estivessem gravadas na pela,
entranhadas na carne,
diria que não foram.


partido

meu


parti
        do
meu
        cor
            ação 
ainda não
                parto


terça-feira, 12 de setembro de 2017

Aurora

Ton sourire

Teu sorriso,
ainda que fosse tema de mil poemas meus,
não se esgotaria.

Teu sorriso,
fosse ele percorrido em mil versos meus,
ainda me sorriria
            — brotar-me-ia uma aurora n'alma.


( : )

tua graça

tua graça,
doce Alice,
faz-me rir
(de minha própria tolice).




Animal

Rosa

Teu perfume, rosa, é tal
que me faz faltar o ar,
faz dançar, cantar, regozijar...
Teu perfume, rosa, é animal!



Matheus compreenderia?

Pro(a)fanar

"Nem só de pão viverá o homem"
  Em fim pude entender a frase,
  Mas numa profanidade vinda quase
                             — do abdômen!





Se ela...

Suspiro

Ah, se ela soubesse
Ah, se ela soubesse!
Ainda que alguém
     mo dissesse
     eu duvidaria
     que ela já sabia
Ainda que alguém
     se me opusesse
     eu repetiria:
Ah, se ela soubesse!



domingo, 3 de setembro de 2017

Haikaos

XVII

Procissão vidente
no pequeno de repente
faz um sonho sempre

Haikaos

XVI

Se o caos incomoda
tais corpos pela manhã
lá eu estarei

Haikaos

XV

No momento em que um
coração desintegrou-se
lá eu estarei

Haikaos

XIV

E tocando harpa
na medida em que comovo
lá eu estarei

Haikaos

XIII

E desde o momento
em que minha harpa incomoda
lá eu estarei

Haikaos

XII

Tecido solúvel
probleminhas idiotas
na manhã perdida

Haikaos

XI

Lábios seriam amor
se soubessem com torpor
mãos pra repousar

sábado, 2 de setembro de 2017

Ah,

Que poeta!

Que poeta, diz-me tu, que poeta poderia (quem ousaria?) competir com a poesia de teus lábios — nos meus. Ana, Quintana, Pessoa, Leminski? Clarice, Maurice, Rodin, Kandinski? Que poeta poderia? Que poeta comporia um verso como o anverso de tua língua na minha? Quem escreveria um opúsculo intenso como o ósculo com que me presenteias na escuridão, no silêncio, no deleite tout entiers?


Nota

Das memórias inexauríveis

Em minha carne, as memórias inexauríveis de nosso encontro. E se me esforço em olvidá-las, é na pueril tentativa de fazer dos encontros vindouros uma nova primeira vez...


sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Olho

EST RES MAGNA TACERE

Olhos nos olhos
Nada a declamar...


quarta-feira, 30 de agosto de 2017

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

A

partir

parto amanhã
mas uma parte
de meu coração
já partiu


quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Haikaos

X

Sem aves, a vida
estilhaça meu sossego
secreto e sozinho.

Haikaos

IX

Soluço dum sol,
gesto de quotidiana
fermentação muda.

Haikaos

VIII

Caminhos por versos,
escrevo-os com minhas mãos,
meus olhos os sentem.

Haikaos

VII

Contente e serena
podes escrever o último
pensamento no ar.

Haikaos

VI

Vi manhã sem seios,
indiferente guardei
intransferível

terça-feira, 15 de agosto de 2017

Canto



  Passionarinho

Teus olhos
céu
em cuja cor
minha alma pode passarinhar

Teu corpo
árvore
em cujo calor
meu corpo se pode aninhar

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

nuez

baixeza

nos versos e avessos
boquiabro-me
nuez após nuez
hei
ainda
de deitar fora outra camada de minha pele
gaguejando em meu avesso
versado em palavras duma baixeza...
indizicernivante!


Sorrio e tropeço

caminho

caminho em tuas palavras
vou e volto
tropeço e sorrio
e sorrio mais que tropeço

sorrio diante da grandeza
da beleza
do encantamento
do desconcertamento
do brio
e do fio de sorriso
que costura minha boca

tropeço e sorrio
e sorrio mais que tropeço
sorrio por dentro até vazar os lábios

bem queria dizê-lo tête-a-tête
mas
nessa condição
quedaria silente

só poderia dizê-lo
em gestos
(da mão
da cabeça
dos lábios... silentes)

ou a salvo
a distância
(quilômetros de palavras)

tropeço
e sorrio
e sorrio mais que tropeço

como quem se descobre maior
em tua grandeza
indo e vindo em tuas palavras
sorrindo e tropeçando de alegria


quarta-feira, 9 de agosto de 2017

A dois

Reconheço

Reconheço,
perdi a medida

sobrou apenas
a grandeza.


terça-feira, 8 de agosto de 2017

Danço com São Carlos

Reticências

Tinha um ponto no meio do verso
No meio do verso tinha um ponto
Tinha um ponto
No meio do verso tinha um ponto

Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minha retinas tão fatigadas
Nunca me esquecerei que no meio do verso
Tinha um ponto
E tinha outro ponto
E ainda mais um ponto no meio do verso
No meio do verso tinha três pontos.



Oro

Por um milagre dionisíaco

Conter-me
a mim mesmo
nem é tarefa tão difícil assim
Mas como conter
o que transborda em mim?



Ser tesa

Certeza

certeza...
daqui eu fujo...
nem que seja
pra dentro de teu olhar...


Só sobrei...

   Sossobrei

     Sossobrado em
      sentimentos
       sensações
        sorri
             so
                s


In memoriam


Il a dit

Ele fora um presente de deus,
 Mas só o percebi trop tard...
              (Já o havia perdido.)


sábado, 29 de julho de 2017

Haikaos

V

Eu, tranquilamente
contente, iniciei
segredos de espuma.

Haikaos

IV

próximo repente
um repouso de mulher
automobilística

Haikaos

III

repente despeito,
quotidianos naufrágios,
colorindo atalhos.



Haikaos

II

Tão tranquilamente
um cego lendo teu rosto
vê teus pés cansados

Haikaos

I

gemedoramente
chove fosse oceano
cego como vida

dum carvalho

poema roubado

Meu quando
Não é de datas
É de gestos
É de palavras


sexta-feira, 28 de julho de 2017

Mil vezes...

Cobarde.

Sou cobarde.
Tão cobarde
Que não o digo em claro português.
Cobarde nas palavras,
Cobarde nos gestos,
Cobarde!
Talvez melhor assim...


quinta-feira, 27 de julho de 2017

versos

calados

na caminhada cotidiana
cada um cose cada coisa
como costurasse com cuidado
camélias e crisântemos
catados no curso
compondo um cachecol
que cobre o colo
que cobre a cara
que cobre o coração



Dois

Ela é f...

é flecha no alvo
na árvore
na caça
              surpresa!
sua presa
observo
a flecha no alvo




Um

Ela é f...

ela é flecha que passa
risca a pele
ou atravessa o peito
     e segue sem cravar
                               ‒ pois se crava
seu destino não é sair sem quebrar
     e sem rasgar a pele
     e sem sangrar
     e sem marcar
   
e sem amar

quarta-feira, 26 de julho de 2017

meio sem jeito

Rabisco de soneto


Ah! Quanto tanto em meu peito!
Que eu o preciso falar,
Que eu preciso é gritar;
E nem que gozasse no leito

Por horas e horas a fio,
Seria tanto tanto quanto
Essa coisa de andar por um fio
(Ainda que dissolva algo no pranto)

Sem soltar sequer um pio,
Sem deixar escapar um ai,
Desse sentimento que vai

Queimando-me do mais alto fio
de cabelo até a sola dos pés
‒ e nem posso dizer que tu és!


moção

monumento


digo: sou torvelim
um quê almático
e somático
e ático
e
a ti
com
amor
escrevo
o avesso
de versos
românticos
nessas linhas
que são como sou



talvez

(que talvez não valha o risco de navegar)

     deste meu jeito trôpego
torpe turvo e torto
     sou mar revolto
em costa sem porto



terça-feira, 25 de julho de 2017

soneto

Crônico

Eu, no alto desta torre,
Um lobo solitário,
Um ser celibatário
Que pouco a pouco morre,

Tornei-me presa dum
Amor tão intocável
Quanto era incomum.
E se irrealizável

Queda; não há uma chaga sofrida
Que não valha o amor aspirado.
Chronos tem-nos amaldiçoado

Não por uma juventude ida,
E sim por uma via escolhida
Em tempos que já nós são Passado.


segunda-feira, 24 de julho de 2017

Nós

Incorrigíveis

Dessas línguas
que nos cabem
encantadoramente,
exatamente
e incorrigìvelmente
em nossas bocas;

Dessas línguas
que nos viram
do avesso
e num tropeço
fazem descomeço
em nossas bocas;

Dessas línguas
que nos falam,
nos pegam e piscam,
nos beliscam e petiscam,
nos arriscam e enroscam
em nossas bocas.

quarta-feira, 19 de julho de 2017

Rascunho

patético

Diante do que sinto, dizer o mais óbvio é o mais verdadeiro (e sincero) e o mais mentiroso (ou inverossímil) : é uma paixão.

Pura verdade, nada mais que a verdade, posto que é isso : paixão – no sentido mais nobre (páthos) e menos niilista –, mas também completamente outra coisa que isso que românticos e moralistas apelidaram de paixão — uma versão satírica do amor, caricatura esdrúxula do que um dia nomeou-se paixão.

Sinto quase como um dever descrevê-la, porém é quase como uma impossibilidade fazê-lo – preferia não, mas... Então descrevo o que se passa e que de resto cada um tome para si. Veja que não digo "interprete como quiser" – às favas com as interpretações e com a comunicação –, digo "tomar", i.e., roubar, apossar-se de algo sem dono (e jamais possessível em absoluto). Que façam disso algo seu e que não tentem dizer o que isso significaria para mim, pois isto só deus – já falecido – poderia fazê-lo.

[...]

fuga menor

Fuite

elle fuit
(elle a fui)
quand je dis
(quand j'ai dit)
tout ça qu'elle sent
(qu'elle a senti)
tou ça que nous sentons
(que nous avons senti)
sans la poétique à la langue.
Maintenant, je ne sais que faire vers(er) ma vie.