segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Fragmentos (III)



Uma xícara de chá (com gosto) de amor




[...] e o que você conseguiu foi deixar uma marca profunda e um gosto de quero mais nos meus lábios, de tal maneira que a língua quando os toca faz exalar em cada rincão da minha alma o regozijo e a lembrança, mas, como uma droga que vicia, logo vem a dor e a angustia da falta, logo vem o desejo torturante de querer repetir a dose, que me mata, que me mói, que me consome, me destrói.

- E o eu que sobra disso?

Um inconstante instante eterno de retornos em contornos tortos e incontidos contados como se fossem contos de encantos puros, contos de fadas de final feliz pintado em céu azul com cheio de anis.
Mas aqui não há final feliz. Talvez se não houvesse final tudo já o não seria assim, mas cá pra mim, que graça teria então?
Que graça teria, se cada jardim da paixão fosse deixado morrer após a tempestade de granizo do não?
Por isso sorrio, não como se tudo fosse novo, mas como se isso não fosse o fim, o que me mata me dá sentido, mas com já dito, em quanto esse momento não chega cada golpe que não me derruba me deixa mais forte para o golpe seguinte.
Para cada lágrima que derrama minha face estampa-se um eu mais sorridente.


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sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Considerações sobre o tempo


Ad infinitum (?)


Deito-me no cais, vem-me o conflito
Se o tempo não tem tempo, se o tempo é infinito
Como se tem tão pouco tempo?
Como se perde ou se ganha tempo?
Como ele escapa se há tempo aos montes?
Se ele não é sólido, como com ele se constroem pontes?
Como com ele se apaga as dores?
Como nele se criam as cores?
Como o tempo acaba se não tem começo?
Como se vende se não tem preço?
Será que o tempo não tem pó?
Será que ele vê a ave só?
Será que ele vê o avesso?
Ou será que de tempo careço?

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O muro da casa de leprosos exibe, já degradado pelo sol,

...rabiscos y interrogações de um louco.

Um beijo será sempre de amor?
Um perfume sempre será de doce odor?
Um sussurro suado soado de lábios colados ao ouvido será sempre carinhoso?
Seria toda a serenidade em tons degradê pacífica?
Um afago mudo com toque de veludo - no ego - será sempre bondoso?
Seria toda sabedoria deífica?

O que guarda seu peito?
Imagina-se possível que fiquem silenciados todos os resíduos do controle?
Imagina-se que cicatrizam indeléveis as maculas da disciplina?
Um controle mais do que imposto, algo quisto, desejado, porém, nocivo!
Longe do cuidar-de-si, do preparar-se para o trágico e irracional mover-se da vida.



Você fez-se preparado?
Mesmo?
Engodo!
Você é fraco!
Irá cair!
Você não se conhece!
Você irá falir!
Nós iremos!
Todos!
Um a um, pouco a pouco.
Até restar menos que carcaças enfileiradas prontas para o abate.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Nas mãos de um corpóreo mortal...

Um instante infinito

Eu poderia olhar a foto o dia inteiro, a semana inteira, o mês ou mesmo um ano completo sem sequer repetir um segundo de memória, sem me cansar por um só momento do ato, sem deixar repetir-se um só fato, um só detalhe – esses, que são milhares, vem e vão, em vão trazem e levam nos vãos do meu siso o sorriso.

Poderia ser um quadro, uma aquarela em tons pastéis, um esboço em guardanapos ou em velhos papéis. Mesmo assim poderia passar o resto da vida lembrando cada minúcia, cada nuança, cada sensação escondida, recolhida sobre as cobertas, aconchegada no colchão.

Sento, deito-me, ajeito-me buscando a posição perfeita para admirar as faces na foto. Meus dedos acariciaram o papel colorido com teu semblante, descolorido pela incerteza, pela imprecisão que me atormenta. Seria tão mais fácil uma breve resposta. Um “sim” que faz levitar, sonhar outra vez. Ou um plúmbeo “não”. Qualquer um é melhor que a mácula do silêncio deixada no coração.


quarta-feira, 7 de outubro de 2009

"longe de um ordenar, quer se inspirar..."

Uma nota de alegria

Cantarole um belo dia,
faça-o nas notas que lhe brotam aos lábios
Sussurre sua companhia
em crescendo fugitivo dos duros sábios

Assobie, emane o que lhe abunda os pulmões
Exale o brilho, nos seus olhos, criador
Expresse pelos poros o mover das paixões
Dê abrigo pleno aos sonhos em seu amor




Cante os sorrisos alheios,
plante-os como sementes do que lhe encanta
Faça soar sem freios
o solo fértil que no qual crescerá essa planta

Dance, regue com os sentimentos mais seus
Cultive a flor de um ser mais reluzente
Deixe correr seiva vermelha por entre breus
impelindo a nascer algo simplesmente... diferente