segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Um quase-soneto III:


Sr. Soi & as sombras gigantes

As sombras de cimento,
tão quentes à pele & tão frias n’alma,
uivam com o vento

Que outrora me acovardava por seu sibilo melancólico
& agora me melancoliza pela formas covardes que contorna
amiúde, fazendo do papel um encontro catabólico:
pensamentos infames, ares secos & vista morna

Um fragmento de papel,
fragmento de ser do-ente de calma,
rabisca o que resta de céu

Que outrora foi negro cintilando minha ínfima & infinita finitude,
como brilho raro de diamante,
agora some pela soberba de minha espécie, que se ilude
que em algo, senão em mentira, é gigante

...fadando-se ao mesmo & a curti-lo




sábado, 28 de janeiro de 2012

Balbucejo zombeteiro...


Para além (das cores) do Arco-Íris

Não importa a cor, pois tudo mescla-se na mesma massa
homogênea & disforme – tudo tão cinza & sem graça!

Não importa o gosto, pois tudo parece ser o mesmo
punhado de nada, turvo & seco – um pálido sesmo!

Importa, então, repetir a identidade
sobre o solo da mesmice
propagar uma diferença
que não passa de tolice

Uma tolice tão tola que não mais magoa
Que não faz mais que agitar a superfície da lagoa
na qual o fundo lamacento
guarda os limites & os limiares do advento!


Um quase-soneto II:

Sr. Soi & a eternidade

Feito luz que se apaga,
feito leito que se deita
repetidamente no sem pensar do cotidiano

Feito punho & chaga,
feito vida que se leita
repetidamente no dia-a-dia tão mundano

Sou sentença que sentencia a si
próprio, na letra, à obscuridade
tornando-se presente aqui & logo ali
sem temer ou escolher ser verdade

Sou parte disto & daquilo:
Parte escolha, parte temor
parte retorno, parte homem eterno ator


Um quase-soneto:

Sr. Soi & a dobra

& eu me fecho & me dobro sobre mim,
feito curva prolongada
Meu umbigo tornou-se seco & meu peito uma fértil imensidão sem fim,
na qual me recolho a habitar o coração dum'alma malograda

Sigo uma repetição fractal feito micro-espessura
na qual, quiçá, sou minha própria água-mole-em-pedra-dura

Ainda bem que sou múltiplos & somos amigos,
nessa ilimitada finitude,
pois, como aguentar tamanho tédio sem estar em face dos inimigos
& sem querer que lhe apedrejem, amiúde?

Desvio & desdobro a mim mesmo para o impensado que não sou
Ora, mesmo qu'eu planeje, como posso ter certeza pr'aonde vou(o)?




segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Em erupção:

A estagnar

& toda a intensidade da lava estagnou-se na frieza dum firmamento
& a fluidez volúvel e corrosiva enrijeceu-se em sólido fundamento
& seguro, firme, fácil deixou-se que a vida fosse levada de si
& a morte de cada dia foi vitoriosa na certeza de que nada mais cresce aqui...


quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

(Des)compasso:



Quatro por oito

Quatro cores
E nenhuma sentença
Assim eu vi seus olhos
– Olhos de indiferença

Quatro flores
E todo ardor do mundo
Assim eu senti seu beijo
– Um beijo moribundo

Algumas considerações banais (dobrar-se sobre “si” o pensamento):



O eterno pensador,
O interno pesador...
– Oh, terno ardor!

Sei que não sou filósofo, historiador ou poeta,
Nem sequer um recôndito anacoreta
Não sou pacifista ou militante numa causa concreta,
Não sou douto, professor, etc.

Pois sou muito +
Sendo muito -
Entre-gozador da vida e sonha(r)dor:
Desejo de um eterno – pensador!

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Soneto em sangue...

 Aos guerreiros do mangue

Nem maiores nem melhores ou especiais,
Apenas linhas espaciais
Que não se fazem do interesse langue,
Mas de amor escrito com sangue

Nem eternos nem supernos ou dolosos,
Apenas combates vigorosos
Que não se fazem do amor fraternal,
Mas dum sentimento transversal

Que nossa amizade dure enquanto formos amigos
Que sejamos amigos enquanto valer pra cada um de nós
Que cada palavra seja de coração

Que não sejamos meros reconfortantes abrigos,
Mas, lançando-nos ao mar, velejando a vários nós,
Sejamos companheiros de embarcação!