terça-feira, 19 de julho de 2016

Ave!


Beija-flor-me-eio

Voo e volteio,
        beija-floreio;
Busco amor
        de flor em flor,
        de paixão em paixão;
Ou bem me aprazo num botão
        ou bem retorno ao pó do chão.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Repito,


Malditos (II)

Malditos sejam esses gorjeios
     que invadem o caroço em meu peito
     e sem pedir licença
     fazem ninho nesse coração esburacado.

Malditos sejam esses gorjeios
     que arrebatam meu corpo de tal jeito,
     que até parece doença,
     mas doença que me faz um bem danado.

Malditos sejam,


Malditos (I)

Malditos pássaros matinais
     que invadem os quintais,
     que me encantam com seu trinado,
     que me impende de ficar irado
     com os ruídos dos carros e seus motores valvulados,
     com os humanos e seus rotos matraqueados.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Sometimes not


Sometimes

Sometimes I feel like a loser
I feel weak and coward
I feel i
I would prefer not to
But I feel I already could die


O que posso?


Signo
ou
O que sou?

         Signo,
assigno-me,
assino-me
em um signo
que me apreende,
que me prende,
que me aprende,
pois o ensino o que posso
e o aprendo
pois que restrinjo o que posso
no que sou:
deixo do que posso para ser;
o que eu posso? se esvai
no que sou?
          O que sou?
és isto
com ascendente em aquilo
e lua naquele outro;
ou és istoismo
com pós-aquiliano
e pseudo-aquelônico;
ou ainda, és
deste jeito por conta aquele sonho,
daquele modo por causa deste teu pai,
este teu pai que é...
] ad eternum
ad nauseam [
          Esticam-se as raízes que me assinalam,
meu pertencimento,
meu prendimento,
meu lar no coração do ser,
sono eterno
no berço esplêndido
do que é,
do que sou;
mas não sou,
senão como lampejo
que brilha e deixa-se ser apenas em memória,
a luz que corta a retina;
assim sou sem ser,
assim não sou
nem me pergunto,
não me posso perguntar:
o que sou?
mas ouso ao perguntar:
o que posso?
o que posso eu?
o que pode meu ser?
o que posso ser?
o que posso fazer...
viver... mover... pensar... comer... ir... ficar... não ver...

Dit moi...

Que doit-je faire avec tout cela?

que faço eu?
que faço eu com isto;
que faço eu diante disto
de certo modo intangível
e por isso mesmo desejável
e por isso me apraz tanto?

apraz-me
a carícia
no intocável;
o sussurro
do indizível;
o olhar oblíquo e dissimulado
ao invisível.

que faço eu?
que faço eu com tudo isto
que é tão pouco
e ainda assim me transborda
circundar sem que se possa abordar
atracar nesse mar
parar no tempo
viajar no espaço do mesmo lugar
deslizar sobre a fina camada de gelo
riscando, o gelo, sobre ele
o risco de responder:
que faço eu com tudo isso, aí?

Terceto


Mon amour est une révolution

Meu coração é um campo de batalha;
Minha poesia, uma luta;
Meu amor, uma revolução.

Sinto medo, medo da morte...
Morte dos corpos, esvair da pulsão;
Morte da revolução, fim duma bela relação.

Sinto alegria, alegria de vida...
Alegria da luta, o jogo do flerte;
Alegria da vitória, o gozo do beijo.