domingo, 28 de junho de 2009

Do abismo escuro...

Feixe de Prazer

(I) Um nó no meio do fio que impede o fluxo


Um ponto de vontade que reluta em ver-se
imerso no todo que força-o contra o seu anelo
– Poderosamente retumbante!

Golpes de martelo ou panos de veludo não são a lei,
mas fazem-na, delimitam-na, urram-na!

(II) Um tom na aquarela de matizes


Como a dança de notas de uma orquestra,
os incontáveis pontos involuntariamente brotados do que não-se-pensou
sibilam, aprazem-se entre si, para-si, aí!

Esse isso, que se pensa e se engole seco, tal qual a nuvem, que,
por mais que se nomeie, que se prenda, não se fixa aqui, ali, nem acolá!

(III) Binarismo sobrepujado na potência do ser


Horizonte infinitamente plural por cima do zero e um
mastigando a ordem, pisando no progresso, no regresso,
na máxima, e por que não, na mínima

Sem nem sempre fazer o mesmo movimento,
mas gerando quase sem querer forma do todo!

(IV) Beijo de boa-noite n’alma


Na certeza, o eu que se aniquila na marcha no sentido do refluxo,
na labuta que se multiplica num ciclo vicioso, a qual não se quer escapar
e que ao fim já se quer beijar

Bem como a mancha por sobre a manta que vela a santa
o meio no seio do teu meu que se mata aqui, ali, acolá!


terça-feira, 23 de junho de 2009

Und du wirst dich fragen:

Wo ist mein Verstand?

Os sons destoam e entoam
Entram e saem,
Eles contraem meu estômago
Até que se encerre o ânimo
Batem-me contra minha consciência até que desmaie
Fazendo dos sentidos uma nova efígie
Uma esfinge, que finge sorrir
Ante a dúvida, duvida sentir
Olho, penso, anuente
Pergunto: O que? Onde está minha mente?

O chão corre e eu corro atrás
Os matizes fazem-me em paz
O riso vai ouvido adentro,
Invade cada orifício,
Todo nome tem odor
Cada palavra um ardor
Meus pés me impulsionam contra o céu
Sinto como se cada célula fosse revel
Giro, viro e entre dentes
Eu digo: Onde... Onde está minha mente?

Falo do falo
Que adentra o valo
Que enleva a libido
Sussurra ao ouvido
Tudo está perdido, onde não o lioz
Quando se perde a noz
Quando se ata o nó, em dó
Tudo termina em pó, só
Respira, inspira, mente
Na mentira, inquiro: Onde está minha mente?

A juventude sônica produz
A usina de energia conduz
Confusão é sexo, ou não há cachorros
Fuja para o morro, agora eu morro
E caio, de joelhos, a consciência
Dá indecência à demência
Confusão é sublime
Suprime, sem regime
O que no que pode ser o ente
Ainda vago... Onde esta minha mente?

Agora o dia passa e eu me pergunto do que valeu, pergunto por que tudo está tão igual, nada marginal, nada original, tudo de mesmo gosto sem-rosto, esgoto de desejo e ensejo de suicídio da alma, em troca de uma falsa sensação de existir, de um esquecimento no ser-aí da morte de cada dia – Ah! A morte de cada dia nos dai hoje... – do destino de cada instante consciente,
que me faz ser e perguntar: Onde está minha mente?

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Fragmentos (I):



Na lágrima que se mistura ao sangue reflete-se,
[a quem quiser ver,
quão frívolo é o prazer evocado do medo

Saciado o desejo, construído como um prédio,
[tijolo a tijolo,
zero passo move ao aconchego

Nos gestos de íntimo horror algumas marcas
[indeléveis
formam uma nova escolha

Ergue-se aí uma flâmula que, tremulante ao
[vento,
fulgura, no centro, a folha

No brilho dos olhos do que outrora foi produto
agora há vida, há sentimentos
Faz-se então o respeito
no peito o ensejo para algo:
– Alegria!
No que parecia não-ser vê-se um outro
Não há para isso, linhas morais que devam separar:
– Cor, gênero, espécie.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

No olhar perdido, no momento vivido, um novo...

Pathos

Beijo sulforoso que rasga meus lábios,
que sagra minha alma
e confunde minha calma

Beleza nuclear que me faz ruir,
que queima meus olhos
e inunda meus poros

Com um toque que congela,
hálito que desvela
um sentimento novo
que não reconheço em livros, versos ou linhas,
tentando-me a rotulá-lo de amor
com medo de igualá-lo a outro qualquer,
a mais um em uma pilha na estante do meu quarto

sábado, 13 de junho de 2009

Para um dia especial, Pede-se:

Mate-me por favor

Eu sou tudo aquilo que sua família odeia
Sou tudo aquilo que a sociedade não quer
Não tenho medo, nem ódio nas veias
Não hesitarei em fazer o que eu quiser

Meus atos terão marcado meu caráter
Vu andar por caminhos feitos por mim
Pois sou meu próprio destino singular
Não vejo a história por início, meio nem fim

Aceite seu fim trágico, viva o eterno retorno
Não há fundamentos
Não há julgamentos

Se não pode conviver com a dor
Que essa palavras lhe trazem
Um pedido eu lhe faço:
– Mate-me por favor!

Para os seus padrões eu sou frio e cruel
Não ligo para você nem para ninguém
Eu quero poder andar por aí e olhar o céu
Não vou parar, quero ir bem mais além

Seu atos são covardes e ressentidos
Sou muito pior que em seus pesadelos
Você prefere tampar os seus ouvidos
E calar-se diante dos grandes medos

Beba com Dionísio, exale seu desejo
Não há fundamentos
Não há julgamentos

Se não pode conviver com a dor
Que essa palavras lhe trazem
Um pedido eu lhe faço:
– Mate-me por favor!